O embaixador da Ucrânia no Vaticano criticou nesta quarta-feira (24) o papa Francisco por se referir a Darya Dugina, filha de um proeminente ultranacionalista russo, morto por um carro-bomba perto de Moscou, como vítima inocente da guerra.
É altamente incomum que embaixadores no Vaticano critiquem o papa publicamente.
“Inocentes pagam pela guerra”, disse Francisco mais cedo em sua audiência geral de quarta-feira em uma frase na qual se referia a “aquela pobre garota jogada no ar por uma bomba sob o banco de um carro em Moscou”.
A Rússia culpou agentes ucranianos pelo assassinato, uma acusação que Kiev nega. Alexander Dugin, pai de Darya, há muito defende a unificação dos territórios de língua russa e outros em um novo império russo que incluiria a Ucrânia.
Darya Dugina apoiou amplamente as ideias de seu pai e apareceu na TV estatal por direito próprio para oferecer apoio às ações da Rússia na Ucrânia.
Em um tweet, Andrii Yurash, embaixador da Ucrânia na Santa Sé, disse que as palavras do papa foram “decepcionantes”.
“Como [é] possível mencionar um dos ideólogos do imperialismo [russo] como vítima inocente? Ela foi morta por russos”, disse ele.
Francisco chamou a guerra de “loucura”. Ele disse que crianças ucranianas e russas foram mortas e que “ser órfão não conhece nacionalidade”.
Em seu tweet, Yurash disse: “não se pode falar nas mesmas categorias sobre agressor e vítima, estuprador e estuprado”. O Vaticano não respondeu imediatamente aos comentários de Yurash.
Em outra parte de seu discurso, o Papa Francisco pediu “passos concretos” para acabar com a guerra na Ucrânia e evitar o risco de um desastre nuclear na usina de Zaporizhzhia.
Rússia e Ucrânia se acusaram repetidamente de atirar contra a instalação, a maior do tipo na Europa e que as forças pró-Moscou assumiram logo após a invasão de 24 de fevereiro. As Nações Unidas pediram a desmilitarização da área.
Francisco falou no dia em que a Ucrânia marcou sua independência do domínio soviético em 1991 e seis meses após a invasão das forças russas.
Em entrevista à Reuters no mês passado, Francisco disse que queria visitar Kiev, mas também queria ir a Moscou, de preferência primeiro, para promover a paz.