Nunca ouvi falar que o orgulho, a riqueza e a arrogância continuam irmãos siameses no enfrentamento dos nossos últimos dias, tomados pela enfermidade ou pela causa natural. Parece que o amor toma forma nesse momento. Tudo isso nos abandona, porque o mundo que nos reserva sabe lá a cor que tem.
Tem coisas que nascem com conquistas: um trabalho, uma autoridade, submissão.
Então nos paira uma necessidade artificial de querer voar com asas que Deus não deu.
Eu sempre fui ciente das minhas limitações. Ouvia seu Raimundo Escrivão falar coisas da polícia, e pensei: quero ser um profissional assim, e fui um bom escrivão dos meus sonhos, não necessariamente na área criminal, um servidor igual àquele que odeia ver fila de espera com gente se remoendo contra tantos serviços de péssima qualidade oferecidos.
Quando vi minha mãe lecionando com aquela simplicidade e mestria, eu pensei: um dia serei igual a ela, e fui. Fiz concurso e fui para a sala de aula, mas o dom que tenho, e o sonho maior, fizeram-me deixar o quadro e o giz por algo que me inquietava.
Tem coisas que Deus ouve em silêncio não por querer saber da dimensão de algumas ganâncias naturais do homem, porque sonho às vezes não significa a mesma gota num oceano de tantas promessas não cumpridas.
Às vezes seja por isso que nem sempre agradamos, e sermos lembrados em vida é mais suficiente do que a atrocidade da dor da partida, porque a morte só vale alguma coisa para quem lida com funerária.