Às 6h35, horário local, do último sábado (7), o mundo parou quando o grupo extremista Hamas lançou um ataque inesperado por terra e ar contra Israel, atingindo grandes cidades, como Tel Aviv e Jerusalém. Até o momento, as autoridades locais indicam que ao menos 1.500 pessoas morreram, sendo 900 em Israel e 700 na Faixa de Gaza, sem contar milhares de feridos e desaparecidos.
Como o conflito e seus precedentes alcançaram escala mundial, muitas dúvidas surgiram sobre o que está acontecendo e por qual motivo.
Essas são 5 palavras para entender o conflito entre Palestina e Israel.
Antes de tudo, é preciso saber que a Palestina não é um país, um Estado, por esse motivo , o povo palestino luta pelo seu reconhecimento internacional após sofrer com o imperialismo do século XX. Como Estado de jure (reconhecido por lei, mas que não possui controle sobre seu território ou governo), a Palestina reivindica os territórios da Cisjordânia (incluindo Jerusalém Ocidental) e a Faixa de Guerra, como foi definido pelos Acordos de Armistício de 1949, que puseram um fim na primeira guerra árabe-israelense após a criação do Estado de Israel.
Para entender a situação da Palestina, é preciso voltar no século XVI, quando a região era apenas controlada pelo Império Otomano e assim permaneceu até o final da Primeira Guerra Mundial, quando este foi derrotado e desmantelado. Com isso, em 1922, a Liga das Nações concedeu à Grã-Bretanha um mandato sobre a Palestina como forma de apoiar a criação de um lar nacional para o povo judeu na região, um reflexo da Declaração de Balfour de 1917, ignorando que lá havia uma população árabe com cerca de 800 mil pessoas.
O povo judeu foi expulso da região da Palestina, dando início à sua diáspora (o deslocamento forçado ou incentivado) quando o Império Romano dominou a área em 63 a.C. e os expulsou sete décadas após a morte de Cristo como forma de combater os movimentos nacionalistas que buscavam independência.
A diáspora judaica espalhou esse povo por diferentes países, principalmente na Europa, além de Rússia e Estados Unidos. Dependendo da região, suas condições de vida foram variadas, mas, no geral, eles enfrentaram muita discriminação e perseguição, sobretudo na Europa.
Como resultado, surgiu o sionismo, um movimento político e ideológico que buscava a criação e preservação de um Estado judaico na região historicamente conhecida como "Terra de Israel", que inclui partes dos territórios palestinos. O termo sionismo teve origem na palavra "Sião", que é um dos nomes dados a Jerusalém na Bíblia.
A Declaração de Balfour foi o primeiro flerte e sinal de empatia de uma potência mundial com o sionismo, e foi condenada pelos palestinos que acreditam que a Grã-Bretanha desrespeitou os desejos políticos da população nativa. Isso porque a declaração apoiava o discurso sionista de que a Palestina é a região dos judeus por direito, tendo como base "fontes bíblicas e históricas".
Essa ideia de que os interesses dos judeus — sua segurança e liberdade — só estariam preservados se fosse estabelecido um Estado judaico independente cresceu e foi cimentada no final da Segunda Guerra Mundial, após os horrores do Holocausto.
Em 3 de setembro de 1947, o Comitê Especial das Nações Unidas sobre a Palestina (UNSCOP) reconheceu a ligação histórica do povo judeu com a Palestina. Antes de expirar o mandato britânico na Palestina, em 14 de maio de 1948, a Agência Judaica para Israel declarou a independência do Estado de Israel, apesar de toda oposição do povo árabe.
A falta de progresso nas negociações para que acordos de paz acontecessem, interferências internacionais unilaterais e as constantes tentativas em inviabilizar os direitos dos palestinos facilitaram para que ideias extremistas fossem reunidas em grupos como o Hamas, que recorrem à violência como uma forma de pressionar por mudanças.
Durante a Primeira Intifada, uma revolta palestina contra a ocupação israelense dos Territórios Palestinos, o Hamas foi fundado, em dezembro de 1987, por membros da Irmandade Muçulmana, que visa combater Israel, decretar sua extinção e estabelecer um Estado palestino islâmico na região.
A princípio, seus esforços eram concentrados em atividades de resistência armada, como ataques terroristas contra alvos israelenses, porém, ao longo dos anos, o grupo expandiu sua influência e adquiriu uma visão política, principalmente ao vencer as eleições legislativas palestinas em 2006.
A partir disso, o grupo passou a controlar a Faixa de Gaza, antes sob a Autoridade Nacional Palestiniana (ANP), com grande influência israelense. E como ressalta Uriã Fancelli, mestre em relações internacionais pelas universidades de Estrasburgo e Gorningen, confundir os palestinos com o Hamas é o mesmo que dizer que todo afegão é membro da Al-Qaeda. Ou seja, o conflito recente não representa a luta dos palestinos, tampouco coloca Israel em posição de vítima.
A Faixa de Gaza é um território com 41 quilômetros de comprimento, onde habitam pouco mais de 2 milhões de pessoas, localizado entre a costa oeste do território israelense, na fronteira com o Egito, e é banhado pelo Mar Mediterrâneo.
Gaza foi tomada do Egito por Israel durante a Guerra dos Seis Dias, em 1967, e entregue aos palestinos só em 2005. Dois anos depois, passou a ser controlada pelo Hamas quando o grupo venceu as eleições legislativas palestinas e expulsou o governo da ANP.
Israel e Egito então lançaram uma série de restrições de movimento contra Gaza que tornaram sua existência um verdadeiro inferno na Terra, impedindo até mesmo a entrada de recursos básicos, como comida, remédios e energia. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 80% da população da região depende da ajuda internacional, sendo que 1 milhão de habitantes dependem de ajuda alimentar diária. Cerca de 1,7 milhões de refugiados palestinos habitam a Faixa de Gaza.
O recente ataque do Hamas, apoiado pelo Irã, foi uma maneira de impedir que a Arábia Saudita estabeleça relações diplomáticas formais com Israel, não só isolando os palestinos e iranianos como fazendo deles alvos ainda maiores. Em meio a tudo isso, os EUA atua como um mediador essencial para que isso aconteça.
Desde 1949 que os EUA mantêm relações diplomáticas estáveis com Israel, tanto no âmbito de segurança como de comércio e política, e desde esse tempo elas são consideradas controversas. Um exemplo disso é que, como membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas, os americanos usam seu poder de veto para bloquear resoluções críticas de Israel na ONU, impedindo que a comunidade internacional tome medidas para pressionar Israel a fazer concessões durante conflitos.
Em 2017, o então presidente americano Donald Trump fez dos EUA o primeiro país do mundo a reconhecer formalmente Jerusalém como a capital de Israel ao transferir a embaixada americana de Tel Aviv para Jerusalém. A ação desencadeou uma revolta dos palestinos, que há anos reivindicam, sem sucesso, Jerusalém Oriental como a capital de um futuro Estado palestino.
Além disso, o governo Trump também apresentou um plano de paz chamado de Acordo do Século, amplamente discutido como unilateral por favorecer apenas a Israel, ao permitir a anexação de partes significativas da Cisjordânia pelos israelenses. O plano foi rejeitado pelos palestinos e pela comunidade internacional.
O atual presidente dos EUA, Joe Biden, enviou um porta-aviões, cinco navios de guerra e vários aviões de combate para os israelenses usarem contra a agressão do Hamas, reforçando o que os americanos chamam de "aliança inabalável" com Israel.
Há décadas que a ajuda financeira e militar dos EUA permite que as capacidades militares israelenses se mantenham em posição contra os palestinos, que nunca tiveram apoio aberto de nenhuma potência.