O economista Javier Milei (La Libertad Avanza) foi eleito presidente da Argentina neste domingo (19). O candidato da oposição derrotou o governista Sergio Massa (Unión por la Patria) no segundo turno das eleições argentinas. Com 98,21% das urnas apuradas, Milei tinha 55,75% dos votos, contra 44,24% do atual ministro da Economia, Massa. O resultado surpreende porque as pesquisas indicavam um cenário imprevisível e acirrado.
“Não viemos para inventar nada, viemos para fazer as coisas que a história tem mostrado que funcionam”, assinalou o presidente eleito, evitando polêmicas, num discurso considerado pelos jornais argentinos como em “tom moderado”.
O La Nacion destacou estes pontos do discurso de Milei após a vitória nas eleições na Argentina: “Hoje acaba a ideia de que o Estado é um bem a ser distribuído entre os políticos e seus amigos. Acabou uma forma de fazer política. Temos um problema monumental pela frente: inflação, estagnação, falta de emprego genuíno, insegurança, pobreza e indigência, problemas que só terão solução se abraçarmos mais uma vez as ideias de liberdade, com mudanças drásticas. A Argentina voltará a ser uma potência mundial.”
Sergio Massa, o ministro da Fazenda do presidente Alberto Fernández, reconheceu a derrota em discurso feito às 20h20 a apoiadores. Disse que ligou para Milei para parabenizá-lo pela vitória.
“Obviamente os resultados não são os que esperávamos. Entrei em contato com Milei para parabenizá-lo e desejar-lhe boa sorte, porque ele é o presidente que a maioria dos argentinos elegeu para os próximos quatro anos”, disse ele em seu bunker, de acordo com informações do jornal Clarín.
Javier MIlei tomará posse como presidente da Argentina em 10 de dezembro e governará o país pelos próximos quatro anos.
Milei, 52 anos, vai ser o 52º presidente da Argentina. Candidato da direita radical, ele enfrentará, além da mais aguda crise econômica em três décadas, uma inflação de três dígitos (de quase 140% ao ano), dois quintos da população na pobreza e a maciça desvalorização cambial.
Embora tenha se aliado e recebido apoio de políticos da direita tradicional no segundo turno, como o ex-presidente Mauricio Macri e a candidata derrotada Patricia Bullrich, o candidato vencedor atraiu o voto sobretudo dos mais jovens ao se posicionar contra aos políticos tradicionais, que chama de “a casta”.
Ao votar no início da tarde, Milei disse que “tudo o que tinha de ser feito já foi feito” e a hora de as pessoas falarem tinha chegado, “apesar da campanha do medo”. O candidato da coalizão La Libertad Avanza disse que o momento era de esperança, para impedir o que chamou de “continuidade da decadência”.
O jornal Clarín estampou em sua manchete a diferença de 12 pontos nesta eleição do segundo turno na Argentina do presidente eleito para o candidato Massa: “Milei será o presidente com diferença de 12 pontos para Massa”, O jornal La Nacion também destacou a diferença entre os dois candidatos a presidente da Argentina: “Votação história: Milei vence Massa por quase 12 pontos”.
Milei teve no segundo turno, com 95% das urnas apuradas, 13,95 milhões de votos (mais de 6 milhões do que obteve no primeiro turno das eleições), enquanto Massa conquistou 11 milhões, 1,4 milhão a mais de votos que conseguiu na primeiro etapa do pleito presidencial.
O presidente Lula, que não manifestou oficialmente apoio a Milei, mas se alinha politicamente a Massa, candidato de centro-esquerda, postou no X, ex-Twitter, sem citar o nome do candidato eleito:
Durante a campanha, Milei chegou a dizer, em comícios, que romperia relações diplomáticas com o Brasil, seu segundo maior parceiro comercial. Afirmou também que interromperia as exportações e importações com a China, por motivos ideológicos. Milei falou ainda que, se eleito, a Argentina deixaria o Mercosul. Mas na reta final da corrida eleitoral, em debates e entrevistas, amenizou o discurso, dizendo que a iniciativa privada estaria livre para comercializar com Brasil e China.
As mais de 16,8 mil urnas na Argentina foram abertas às 8h e funcionaram até 18h. Os primeiros resultados oficiais começaram a sair às 21h. As pesquisas de opinião indicavam um cenário incerto, de empate técnico, com uma ligeira vantagem numérica para Milei.
O segundo turno na Argentina colocou frente a frente dois candidatos à presidência com pontos de vista bastante opostos: Sérgio Massa, candidato de um duradouro movimento peronista, que governou a Argentina durante quase os últimos 20 anos e sobrevive, apesar dos cenário econômico com alta irrefreável de preços, e Javier Milei, radical que quer dolarizar a economia para acabar com a inflação acima dos 138% em 12 meses.
A dúvida antes do segundo turno das eleições era onde iriam os votos de Patricia Bullrich do pleito para presidente da Argentina. Rival dos peronistas, sobretudo após a entrada da família Kirchner, a candidata que ficou em terceiro lugar nas eleições, também era mal vista pelo eleitores do Milei. Mas Patricia declarou voto em Milei.
No primeiro turno das eleições na Argentina, ocorrido no último dia 22 de outubro, Sérgio Massa teve 36,78% dos votos (9,853 milhões) e Javier Milei, 29,99% (8,034 milhões).
Além dos dois finalistas, havia três candidatos na disputa pela presidência da Argentina. Patricia Bullich (Juntos por el Cambio), candidata da direita tradicional, ficou com 23,81% da preferência do eleitor. O peronista do estado de Córdoba, Juan Schiaretti (Hacemos por Nuestro País), terminou a eleição na Argentina com 6,73% e Myram Bregman (Frente de Izquierda), candidata trotskista de esquerda, com 2,70%.
No primeiro turno, apenas 2% dos eleitores votaram em branco e menos de 1% anulou o voto para presidente da Argentina. Ao todo, cerca de 35,8 milhões de eleitores estão aptos para escolher o novo presidente da Argentina.
A taxa de comparecimento na votação do primeiro turno foi de 74%, de acordo com a Cámara Nacional Electoral, o menor patamar desde a redemocratização da Argentina, há 40 anos, segundo o jornal Clarín. O recorde negativo anterior havia sido de 76,2% na eleição de 2007, quando Cristina Kirchner venceu pela primeira vez as eleições.
O resultado das eleições surpreendeu, já que a maioria das pesquisas eram lideradas por Javier Milei, que em agosto havia vencido a votação das primárias – votação em que as coligações políticas escolhem seus candidatos – e tinha chances de vencer já no primeiro turno.
Na província de Buenos Aires – decisiva em qualquer eleição por concentrar boa parte da população da Argentina, o candidato de extrema direita teve 42,8% dos votos 25,7% de Massa. Ele também teve vantagens importantes no interior, em províncias como Chaco, Santiago del Estero, Santa Cruz e Formosa.
Pelas regras eleitorais da Argentina, só venceria em primeiro turno o candidato que obtivesse 45% dos votos válidos ou alcançasse um patamar de 40% com uma diferença mínima de 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado, o que não aconteceu. Na Argentina, o voto não é obrigatório. Todas as autoridades eleitas tomarão posse dos seus respectivos mandatos no dia 10 de dezembro.
O novo presidente da Argentina, que se colocava na campanha como outsider na política, se elegeu eleito deputado federal em 2021. Ficou popular por participações em talk shows. Ele se declara “anarcocapitalista”, defendendo privatizações e presença zero do Estado na economia. Declarou que iria dolarizar a economia argentina, abandonando o peso e que iria fechar o Banco Central. Seu agenda inclui pautas como facilitação do porte de armas. Discursou contra mudanças climáticas, considerada por ele como “fraude da esquerda”.
Alçado à fama como comentarista econômico em programas de televisão, Milei se diz amante de cães e, segundo a mídia argentina, tem vários clones de um cachorro que viveu de 2004 a 2017. Embora tenha se aliado a políticos da direita tradicional no segundo turno, como o ex-presidente Mauricio Macri e a candidata derrotada Patricia Bullrich, o candidato vencedor atraiu o voto sobretudo dos mais jovens ao se posicionar contra aos políticos tradicionais, que chama de “a casta”.
Durante a campanha, Milei foi comparado a políticos antissistema como o ex-presidente norte-americano Donald Trump e o ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro. O futuro presidente argentino define-se como libertário e declarou-se defensor de ideias como a comercialização de órgãos e a livre venda de armas. Durante o segundo turno, criticou o Papa Francisco, a quem chamou de comunista.
No discurso da vitória, em seu primeiro pronunciamento como presidente eleito, Milei disse que seu compromisso é com o “comércio livre e com a democracia”. Afirmou que para livrar a Argentina da crise econômica vai precisar de “força e mudanças drásticas”. Não citou o novo governo nem comentou sobre transição. Não falou sobre relações diplomáticas com outros países. Completou: “Começamos a virar uma página da história”.
A vitória de Javier Milei como o novo presidente da Argentina deve trazer perspectivas positivas ao País e poderá favorecer tanto o Brasil quanto o Mercosul, apontou o Sócio e economista-Chefe da JF Trust, Eduardo Velho, que ressaltou o fracasso da política peronista na Argentina adotada nas últimas décadas.
“Milei veio com um discurso diferente, uma proposta econômica liberal e de abertura comercial, financeira, privatizações. A política dele será testada. A dolarização que ele propôs também aconteceu no Equador e deu certo”, afirmou Velho.
O economista aponta que o Brasil e o Mercosul sairão beneficiados do programa de governo de Milei para a Argentina se o seu plano for executado conforme o prometido pelo então candidato. Para Eduardo Velho, é fundamental que o novo presidente receba o apoio do Congresso argentino a fim de facilitar o cumprimento das suas promessas.
“Se Javier Milei for bem-sucedido com o objetivo da recuperação da confiança, com o choque monetário e a recuperação da credibilidade, quem será beneficiado disso será o próprio Brasil, então se a economia Argentina retomar de forma consistente com inflação baixa o nosso País será beneficiado”, afirmou o economista.
*Com Estadão Conteúdo e Agência Brasil