Na Bíblia e na cultura popular, Maria Madalena é uma personagem bastante polêmica. A famosa discípula de Jesus já foi retratada como sua esposa, como uma santa e como uma prostituta. Ela aparece no Novo Testamento em momentos centrais, como a crucificação de Cristo.
A virada na sua "reputação" começou a ocorrer em 591 d.C., quando o Papa Gregório I fez um sermão em que a chamava de "mulher pecadora". Mais de 1.400 anos depois, essa fama permanece, e Maria Madalena foi retratada na arte e na literatura de várias formas. Neste texto, compartilhamos o que se sabe sua história.
(Fonte: GettyImages)
Não há muitas certezas sobre a vida de Maria Madalena, cuja história foi registrada nos Evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João, que foram escritos depois da morte de Jesus. Lucas a descreve como uma das mulheres que seguiram Cristo de um lugar para o outro, ao lado dos apóstolos.
No texto, lê-se: "com ele foram os Doze, bem como algumas mulheres que haviam sido curadas de espíritos malignos e doenças: Maria, de sobrenome Madalena, de quem haviam saído sete demônios, Joana, esposa do mordomo de Herodes, Chuza, Susana, e vários outros que forneceram para eles com seus próprios recursos". Alguns historiadores acreditam que esses "sete demônios" possam se referir a doenças físicas e psicológicas que ela tinha.
Maria Madalena também esteve ao lado de Jesus nos seus momentos finais, enquanto outros seguidores fugiram. Ela também teria sido a primeira pessoa a notar que o túmulo de Cristo estava vazio, tornando-se a primeira testemunha de sua ressurreição.
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Não há nada no Novo Testamento que sugira que Maria Madalena fosse ligada ao trabalho sexual. Isso levanta a discussão sobre de onde o Papa Gregório teria tirado a ideia de que ela era uma "pecadora". De acordo com historiadores, o Papa acabou criando um consenso em uma ideia que circulava entre os homens da Igreja de sua época.
Em alguns versículos do Evangelho, aparece uma mulher descrita como de "má fama", com cabelos longos e soltos, que lava os pés de Jesus. A declaração do Papa em 591 d.C. consolidou a ideia de que ela era Maria Madalena. Ele teria dito: “aquela a quem Lucas chama de mulher pecadora… acreditamos ser a Maria de quem sete demônios foram expulsos, segundo Marcos”. Os sete demônios então passaram a ser decodificados em analogia com os sete pecados capitais.
Por isso, Maria Madalena ficaria por séculos ligada à concepção de que era "pecadora". De acordo com Robert Cargill, professor assistente de estudos clássicos e religiosos da Universidade de Iowa, haveria um interesse obscuro por trás disso: “ao transformar Maria Madalena em prostituta, ela não é mais tão importante. Isso a diminui de alguma forma. Ela não poderia ter sido uma líder, porque veja o que ela fazia para viver”, explicou.
O Papa também teria sido influenciado pela concepção vigente sobre as dinâmicas entre os gêneros. É possível que, durante a vida de Jesus e a época da escrita dos Evangelhos, as mulheres desempenhassem um papel igual ao dos homens no seu círculo de convivência. Contudo, no século IV, quando o Novo Testamento foi canonizado, isso já tinha mudado.