Uma árvore Banyan, nome dado no Paquistão para a figueira-da-Índia (Opuntia ficus-indica), tem chamado a atenção de turistas e viralizando de tempos em tempos nas redes sociais por estar acorrentada. Sim, desde 1898, a majestosa árvore está presa por ordem de um oficial do exército britânico da época do domínio colonial daquele país, conhecido como Raj Britânico.
A planta, que fica dentro de uma instalação do exército da província de Khyber, no noroeste indiano, está algemada com correntes que prendem seus inúmeros galhos até o chão. Para completar o cenário, existe uma antiga placa, como se fosse uma confissão da árvore, que começa com: "Eu estou presa!".
Após a informação de sua condição de prisioneira, a árvore conta como ficou nessa posição: "Em uma tarde, um oficial britânico muito bêbado pensou que eu estava me movendo do meu lugar original, e ordenou ao sargento da cozinha que me prendesse. Desde então, eu estou presa".
Por mais bizarra que pareça, a história da prisão da figueira-da-Índia é real. Segundo historiadores, o oficial vitoriano que se sentiu ameaçado pela árvore se chamava James Squid e, pelo seu elevado nível etílico, acreditou realmente que a imponente árvore Banyan estava se movendo de forma brusca em sua direção. Por isso, não hesitou e mandou que o sargento prendesse o Ficus insurgente.
Em resposta a uma matéria publicada em 2013 pelo jornal paquistanês Daily Tribune, um morador da comunidade deu outra interpretação para o ato: “Os britânicos basicamente deram a entender aos membros da tribo que, se ousassem agir contra o Raj, também seriam punidos de forma semelhante”.
Há mais de 76 anos, o Paquistão é uma república parlamentar livre do domínio britânico. No entanto, governo após governo, nenhum deles foi capaz de remover as correntes da centenária figueira do Passo de Khyber. Mesmo reconhecidamente inocente de assédio vegetal, a árvore Banyan continua suportando em silêncio os seus injustos grilhões.
Ultimamente, essa passagem montanhosa de grande importância estratégica tem sido o cenário de conflitos violentos entre o exército paquistanês contra o Talibã e outros grupos fundamentalistas do Afeganistão. Para punir os crimes de fronteira, o governo de Islamabad ainda utiliza os draconianos Regulamentos de Crimes de Fronteira (FCR), que era usado no tempo em que o país ainda fazia parte da Índia Britânica.
Esse conjunto de leis, que permite a punição coletiva de tribos ou famílias pelos crimes cometidos por indivíduos dentro desses grupos, vem sendo empregado pelas autoridades paquistanesas de forma discricionária em algumas áreas tribais. Ali perto, uma árvore Banyan, que já foi chamada de metáfora do FCR, continua presa a velhos conceitos e a ódios antigos que se renovam.