Colunas Papi
Manoel Neves de Souza, o "Papi": Uma Vida de Lutas, Sonhos e Conquistas na Cidade de Plácido de Castro
Uma Jornada Anônima Rumo à Dignidade e Esperança
20/01/2024 23h34 Atualizada há 8 meses
Por: Paulo Roberto

Em meio às ruas silenciosas e arborizadas do bairro São Cristóvão, na cidade de Plácido de Castro-AC, uma figura singular caminha com a calmaria que só a experiência da vida pode conferir. Com não mais que 1,55 m de altura, Manoel Neves de Souza, conhecido carinhosamente como "Papi", é um cidadão que passa despercebido, mas cuja história de trabalho incansável sob os sois escaldantes de capinas e extrações vegetais não cai no esquecimento.

Em um retorno recente à vida de Papi, deparei-me com uma realidade desoladora. Foi em 2021 quando o encontrei sob um teto antigo, enfrentando as intempéries da chuva, cujas goteiras refrigeravam-lhe o rosto a custo do vento frio. O cenário era de um coração partido diante de um cidadão recluso no anonimato na terra que o viu nascer em 5 de maio de 1958.

DEZEMBRO DE 2021

Papi, nascido no mesmo ano da conquista da Copa do Mundo de Futebol pelo Brasil, não viu o país moldar seu cenário político para as eleições de 1960. Ele é da mesma época dos pioneiros do estado do Acre, enraizados na antiga estação chamada seringal Pacatuba, que hoje se tornou o Município de Plácido de Castro.

Às 16h30min, ao abrir o portão da moradia, deparei-me com uma pequena casa de alvenaria. O som alto da televisão indicava sua presença, mas os chamados eram em vão. Foi somente quando, silenciosamente, Papi chamou pelo meu nome que adentrei sua casa.

Dentro, a casa pintada de uma cor creme amarelada revela um cenário de simplicidade; mas há segurança, cor e brilho nos olhos. No mesmo espaço, sua cama é dividida com relíquias que contam parte de sua jornada: um violão ensacado que não toca mais, panelas artesanais transformadas por suas mãos, um aparelho de som Aiwa topo de linha dos anos 90 que já não presta; caixas de som inutilizadas e um ventilador aos pedaços. Há uma carcaça metálica que chama de DVD.

JANEIRO DE 2024

Papi, um homem de 83 anos que aprendeu a ler e escrever aos 50 com esforço notável, vive com extrema dificuldade de visão e audição. Ele sonha em construir um quarto na frente da casa, um sonho que compartilha com pessoas de bom coração, incluindo o vereador Rogério, seu filho Máximo e outros benfeitores.

 

Apesar de receber um Benefício de Prestação Continuada que ele chama com orgulho de aposentadoria, Papi merece mais. Diante das forças do vereador Rogério, a situação precisa ser melhorada. Um pedido simples por uma boa cama, um ventilador, um aparelho para ouvir as notícias. Este idoso humilde merece respeito, acolhida, dignidade e apoio para realizar seu sonho.

Aos 83 anos, Manoel Neves de Souza é um exemplo vivo de que a idade não impede a busca por dignidade e respeito, valores que transcendem cargos políticos ou feitos esportivos de uma época outrora ou atual de que não se inclui.

No entanto, mesmo com a conquista de uma casa mais digna, Papi, esse guerreiro de tantas batalhas, ainda carece de algo tão valioso quanto uma moradia: o afeto. Neste capítulo da sua vida, em que as páginas se tornam cada vez mais raras, ele anseia por um suporte que vá além do material. Aos 83 anos, Papi clama por um gesto humano, por uma mão estendida que possa impulsionar o sonho que ainda lhe resta.

Num mundo em que muitos têm tanto, e a abundância se mostra em tantas formas, a oportunidade de fazer a diferença na vida desse homem simples, mas rico em experiências, está ao alcance de corações generosos. Qualquer ajuda, seja ela material ou afetiva, pode ser a ponte que liga o presente de Papi aos seus sonhos mais íntimos, transformando o crepúsculo da sua existência em um raiar de esperança e realizações. Porque, afinal, no tecido da vida, cada gesto de bondade é um fio que forma a trama da compaixão.

No coração de Papi, Drummond pulsa forte

Seu caminhar, poesia que a vida transporta

Nas rugas do tempo, como em versos de Bandeira

Papi sonha, e a esperança se faz companheira

 

Paulo Roberto de A. Pereira 

Servidor Público