A natureza que engloba a Terra é definitivamente planejada para funcionar de uma maneira completamente orgânica, porém é inegável dizer que muitas coisas que acontecem nela parecem fantasticamente estranhas. Um exemplo disso é a vida sexual surpreendente de criaturas como os insetos. Em seu livro Sexus Animalis, a pesquisadora Emmanuelle Pouydebat disserta sobre o tema.
No reino animal, podemos encontrar os mais variados tipos de comportamento, desde heterossexuais a animais homossexuais, bem como monogamia, poligamia e poliandria — fêmeas que se relacionam com múltiplos machos —, sem mencionar a grande variedade de "modelos" sexuais entre as espécies. Contudo, embora tudo seja extremamente fascinante, alguns seres chamam mais atenção do que outros.
Em sua obra, Pouydebat destaca como as fêmeas de Nicrophorus vespilloides castram quimicamente os machos para torná-los monogâmicos. No entanto, os piolhos do gênero Neotrogla usam uma estratégia ainda mais radical. Esses pequenos insetos, com cerca de 3 milímetros de comprimento, vivem em cavernas secas no Brasil, onde parecem se alimentar de guano e carcaças de morcegos. Até aí tudo normal.
Contudo, esse é um dos poucos casos na natureza que temos sobre inversão sexual: os órgãos genitais dos machos e mulheres funcionam ao contrário. Nesse caso, as fêmeas são as responsáveis por penetrar os machos com uma espécie de "pênis falso", chamado ginossomo. O objetivo desse órgão é justamente obter nutrientes e esperma de seu parceiro, em um acasalamento que dura entre 40 e 70 horas.
Essa técnica, contudo, é mortal. Quando o ginossomo é removido do macho, o abdômen do parceiro também é arrancado, criando uma ferida mortal. Os nutrientes obtidos, por sua vez, são vitais para que ela consiga conceber óvulos. Logo, é quase como se os machos atuassem como bancos de esperma para garantir que sua espécie sobreviverá mais um dia.
Outro comportamento sexual bastante curioso citado por Pouydebat acontece entre as libélulas do gênero Zygoptera. Entre muitos insetos, a morfologia do pênis dos machos combina perfeitamente com a anatomia interna dos órgãos genitais femininos. Para acasalar, o macho muitas vezes monta em sua parceira — ou vice-versa. Porém, não é nada anormal que o casal adote outras posições sexuais.
O que é notável nessas libélulas é que elas produzem espermatozoides em uma extremidade do seu abdômen, enquanto seu órgão copulador está localizado na base. Para remediar a situação, o macho dobra seu corpo antes do acasalamento para encher seu órgão de espermatozoides. Durante o sexo, essas criaturas podem se unir numa figura em forma de coração, o que pode parecer poético, mas também representa seus riscos.
A competição entre machos é ferrenha na época de acasalamento, algo que é extremamente bom para as fêmeas, mas perigoso para eles. Como forma de otimizar a transmissão dos genes, as fêmeas apresentam espinhos e farpas em seus órgãos. Então, por alguns minutos, os machos passam boa parte do tempo basicamente "raspando" o sêmen deixado por outro parceiro que veio antes. Dentro da espécie, quem copular por último basicamente garantirá que seus genes sejam passados para frente.
A supressão do espermatozoide de rivais é algo que acontece por meios químicos em outras espécies. Inclusive, alguns mosquitos possuem substâncias que atuam para expelir qualquer espermatozoide depositado posteriormente, numa prova bizarra de como a natureza sexual das criaturas que existem em nosso mundo pode ser magnificamente curiosa.