O câncer de mama é causado pela multiplicação desordenada de células anormais da mama. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), a doença causou 18.361 mortes em 2021, sendo 18.139 em mulheres.
O tratamento é constituído de uma combinação inédita de capivasertibe, uma nova terapia, com fulvestranto, uma terapia hormonal já conhecida. Ele é indicado para casos de progressão do câncer de mama, no cenário metastático ou de recorrência, durante ou dentro de 12 meses após a conclusão do tratamento adjuvante.
Existem diferentes subtipos de câncer de mama, com desenvolvimento rápido ou lento. O câncer de mama metastático é aquele que já se espalhou, atingindo outros órgãos do corpo.
Além disso, existem três grandes categorias de câncer de mama:
O alvo da nova terapia é o tumor do tipo luminal, localmente avançado ou metastático com uma ou mais alterações detectadas em uma das três vias PIK3CA, AKT1 ou PTEN. Essas vias regulam a proliferação e crescimento de células, sendo essencial para a manutenção do metabolismo fisiológico das células normais do corpo.
Em casos de câncer de mama, mutações ativadoras em PI3K e AKT são capazes de aumentar a proliferação e a invasão das células cancerosas.
De acordo com o livro “Vencer o câncer de mama: Evitar, tratar e curar“, do Instituto Vencer o Câncer, cerca de 40% dos tumores de mama têm mutação no gene PIK3CA, o que leva à ativação dessa via e, consequentemente, aumenta a proliferação de células tumorais. Adicionalmente, 5 a 10% dos tumores de mama avançados abrigam mutações ativadoras de AKT.
O capivasertibe, presente na nova terapia, é o primeiro inibidor de AKT aprovado pela Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, e pela Anvisa. Esse componente inibe a ação da via AKT, levando à redução no risco de progressão ou morte para pacientes que possuem câncer com alterações na via PIK3CA/AKT/PTEN.
Antônio Carlos Buzaid, diretor médico do Centro de Oncologia do Hospital Beneficência Portuguesa de São Paulo e co-fundador do Instituto Vencer o Câncer, explica à CNN que a nova terapia é indicada para pacientes que já realizaram tratamento, ou estão realizando, e cujos exames indicam uma progressão do tumor.
“Imagine uma paciente de câncer de mama que está recebendo um remédio que chamamos de inibidor da aromatase junto com inibidor ciclina [um tratamento padrão para esse tipo de câncer]. Porém, exames mostram que o tumor está aumentando. Nessa hora, vamos checar se o paciente é portador de uma mutação em uma dessas vias que funcionam como motor para células cancerosas”, esclarece.
“A paciente que foi identificada com a mutação na via AKT pode ser candidata ao tratamento com a nova terapia, que bloqueia a ação dessa via, matando as células cancerosas“, acrescenta.
Em estudo, a eficácia da combinação de capivasertibe com fulvestranto foi avaliada em comparação com placebo para o o tratamento de câncer de mama localmente avançado (inoperável) ou metastático.
O ensaio global envolveu 708 pacientes adultos com câncer de mama localmente avançado ou metastático, HR-positivo ou HER-2 negativo, dentre os quais 289 pacientes apresentavam tumores com alterações na via PIK3CA/AKT1/PTEN.
O trabalho tinha como objetivos primários a sobrevida livre de progressão na população geral de pacientes e na população de pacientes cujos tumores apresentavam alterações na via PI3K/AKT (genes PIK3CA, AKT1 ou PTEN). Segundo o estudo, houve uma redução de 50% no risco de progressão ou morte, em comparação com a associação de placebo com fulvestranto em pacientes com alterações nos biomarcadores PIK3CA/AKT/PTEN2.
Na visão de Karina Fontão, diretora médica executiva da AstraZeneca Brasil, a nova terapia é uma solução para mulheres que não respondiam ao tratamento padrão, dando mais esperança e mais tempo livre de progressão da doença.
“Nosso primeiro inibidor AKT da categoria consolida a medicina de precisão no tratamento de câncer de mama no Brasil, com potencial de mudança de prática clínica ao ampliar as abordagens de tratamento para pacientes que apresentam progressão tumoral ou resistência a terapias de base endócrina usadas previamente”, observa Fontão.
“A combinação também supre uma necessidade de tratamento para uma considerável população de pacientes com biomarcadores específicos, contribuindo para significativa redução de risco de progressão ou morte da doença em estágio localmente avançado e metastático”, comenta Fontão.