NOSTRADAMUS: VIDENTE OU CHARLATÃO? 

O francês Michel de Nostradame (1503-1566) era médico. Mas um médico diferentão. Enquanto seus colegas indicavam a sangria pra resolver boa parte dos problemas de saúde dos pacientes, ele receitava comprimidos à base de ervas e flores, que ele mesmo fazia. E gostava de consultar a posição dos astros antes de dar o seu diagnóstico. Ou seja, trampava de médico, farmacêutico e astrólogo.

Naquela época, esse negócio de ser diferente não rolava. Estamos no período da Inquisição, um tribunal formado pela Igreja Católica pra julgar e punir as pessoas que tinham desvios de conduta. O cara era descendente de judeus convertidos ao catolicismo (chamados de cristãos-novos) e ainda vinha com esse papinho de astrologia… Daí pra fogueira era um pulo.
Mas o homem estava esperto. Quando percebeu que o cerco foi apertando, ele deu no pé. Juntou os trapos com uma viúva rica e se mudou pra uma cidadezinha do interior.  
Depois que a poeira baixou, ele deu as caras com o sobrenome de Nostradamus (o latim estava em alta – dava um ar de sabedoria) e tinha escrito um livro com 12 poemas. Cada um era uma profecia pra um mês do ano. O livro virou best-seller e ele um popstar.

Os riquinhos de Paris vinham se consultar com o vidente. Ele ganhou grana e fama fazendo o horóscopo desse pessoal. Além disso, a coluna que escrevia pra revista Contigo, sob o pseudônimo Sah Bidu, era um sucesso. Foi aí que resolveu lançar outro livro, o famoso Centúrias, onde fez 1.000 previsões!  
Mas e a tal da Inquisição? Deixou barato? Dizem que foi pra escapar da perseguição da igreja que ele escreveu as suas profecias de um jeito tão difícil de entender. Certa vez um amigo perguntou: “Aí Nostra, por que tu não dá logo o papo reto? Fica inventando moda, com esse monte de palavra difícil…” Resposta do mago: “Pô, mermão! Se eu falar tudo na lata, viro churrasco!”

Reza a lenda que, na Itália, ele se ajoelhou aos pés de um andarilho e chamou-o de Sua Santidade. Quarenta anos mais tarde, o sujeito teria se tornado o papa Sisto V. Será?!
Olha essa adivinhação: “O jovem leão triunfará sobre o mais velho / No campo de combate na única batalha / Perfurará os olhos através da jaula dourada/ Dois ferimentos em um, depois uma morte cruel.” Essa seria a previsão de um combate de lanças, que ocorreu em 1559, entre o rei (o leão velho) e o conde Gabriel de Lorges (o leão jovem). Na batalha, a lança do nobre atingiu o elmo do rei (a jaula dourada), entrou pelo olho direito de Henrique II e saiu pela orelha. Bingo!

E assim, muitos alegam que ele acertou uma pancada de coisas: do nascimento de Hitler ao atentado contra as Torres Gêmeas. Números da Mega-Sena que é bom, nada.

Só que ninguém nunca conseguiu acertar bulhufas baseado nos seus poemas. Depois do ocorrido é que começam a fazer as relações com o que ele escreveu.

Em 2012, uns abestados associaram o rapper sul-coreano Psy com o fim do mundo! A parada era a seguinte: quando o vídeo do hit Gangnam Style chegasse a 1 bilhão de visualizações no YouTube, não ia sobrar pedra sobre pedra. A profecia diz: “Da calma manhã, o fim virá quando o número de círculos do cavalo dançante chegar a 9”. Traduzindo: Coreia do Sul significa terra da calma manhã. Os nove círculos seriam 1 bilhão, número que contém nove zeros. E o cavalo dançante? Se você mora no planeta Terra já viu esse vídeo e sabe que a coreografia principal é o coreano pulando igual um doido como se estivesse trotando num cavalo invisível… Até hoje, o vídeo já foi visto mais de 4 bilhões de vezes. Ufa!

“Parentes próximos o acharão, irmãos de sangue / Morto perto da cama e do assento”. Onze anos depois desse versinho, a família o encontrou sem vida no quarto.

Autor: Ronaldo Capra