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Crime em Foz: o que se sabe sobre o assassinato do petista Marcelo Arruda

Polícia Civil do Paraná descartou motivação política no ataque a tiros; advogados da vítima criticam investigadores

16/07/2022 às 11h13
Por: Informativo Plácido Fonte: CNN Brasil
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Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Nesta sexta-feira (15), foi revelado que a Polícia Civil do Paraná descartou a hipótese de motivação política no assassinato do guarda municipal e militante petista Marcelo Arruda – morto há tiros no último domingo (10) em sua própria festa de aniversário em Foz do Iguaçu (PR).

Em contrapartida, os advogados da família Arruda divulgaram um comunicado criticando o relatório com a conclusão dos investigadores: “cheio de contradições e imprecisões”. Parentes acreditam que a continuidade das investigações apontará a motivação política.

Desde o dia 10, o crime em Foz do Iguaçu despertou uma série de repercussões e reverberou no debate político nacional. Relembre abaixo as últimas notícias relacionadas ao caso.

O dia do crime

Na noite de sábado (9), o guarda municipal Marcelo Arruda teve a festa de aniversário invadida pelo agente penitenciário federal Jorge José da Rocha Guaranho.

Arruda era membro da direção do Partido dos Trabalhadores (PT) em Foz do Iguaçu e tinha a decoração da festa de comemoração dos seus 50 anos em homenagem ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT.

Segundo relatos de quem estava presente, Guaranho foi até o local, acompanhado da esposa e uma criança recém-nascida, tocando no carro uma música de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

As câmeras de segurança do local mostram Arruda pedindo que ele deixasse o local e jogando terra de um canteiro em direção ao carro.

Guaranho, então, arranca em retirada, segundo relatos, avisando que voltaria. Nesse momento, Arruda foi até seu carro e pegou sua arma.

Cerca de dez minutos depois, Guaranho voltou e, de acordo com a polícia, dispara o primeiro tiro contra Arruda, que conseguiu revidar e atirar de volta.

O aniversariante morreu, enquanto Guaranho foi encaminhado ao hospital em estado grave.

Polícia descarta motivação política

A Polícia Civil do Paraná descartou motivação política no crime. Guaranho foi indiciado por homicídio qualificado por motivo torpe e por causar perigo comum.

De acordo com a delegada-chefe da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa, Camila Cecconello, “Guaranho não foi lá [na festa de aniversário] para fazer ronda. Ele foi no intuito de provocar a vítima. Nesse primeiro momento fica muito claro que houve uma provocação por motivos políticos. Agora, quando ele volta para casa e resolve retornar à festa, não há provas que indiquem que ele voltou porque queria cometer um crime de ódio contra uma pessoa ou pessoas de outro partido político que não o dele”.

Segundo Cecconello, Guaranho soube da festa por meio de uma testemunha. “Ele [Guaranho] tinha o hábito de diariamente checar as câmeras por ter um cargo ali no clube. Essa pessoa era um funcionário do local onde a festa do petista acontecia.”

Agente penitenciário federal Jorge José da Rocha Guaranho, investigado pelo assassinato do guarda municipal e membro do Partido dos Trabalhadores (PT) Marcelo Aloizio de Arruda / Reprodução/Facebook

A delegada afirmou ainda que não há indícios de que Guaranho e Arruda se conheciam.

“Segundo depoimento das testemunhas, ambos haviam ingerido álcool, mas a vítima não estava em estado de embriaguez. Já com relação a Guaranho, algumas testemunhas afirmam que ele estava bem alterado, apresentando sinais de embriaguez. Ainda não temos o laudo do hospital relatando o teor alcoólico recente”, completou.

Investigação demonstrará motivação política, dizem advogados de Marcelo Arruda

Os representantes da família de Marcelo Arruda teceram críticas à investigação e disseram que, “por certo, a necessária continuidade das investigações demonstrará a nossa convicção quanto as motivações políticas do assassinato”.

Os advogados ainda afirmaram que não tiveram acesso oficial ao relatório da conclusão da investigação, tendo descoberto que a motivação política foi descartada por meio de notícias veiculadas na imprensa.

“O relatório apresentado é recheado de contradições e imprecisões que demonstram a deficiente formação do mesmo”, afirma a nota.

Eles ainda questionam a intenção do agente penitenciário federal Jorge José da Rocha Guaranho, acusado pelo crime.

“Como o autor do fato vai até a festa de Marcelo – evidenciado o conteúdo político do evento – senão para impedi-lo ou frustrá-lo? Faria o mesmo se fosse um aniversário sem conteúdo político decorativo?”, disseram os representantes da família de Arruda.

Os advogados argumentam que “os fatos e imagens” já divulgados “evidenciam a prática de homicídio qualificado motivado por ódio em face de razões políticas”.

“A desconsideração dos requerimentos dos familiares, a negativa de procedimentos operacionais com vistas a cumprir o exarado no Parecer do MP [Ministério Público], bem como o atropelo injustificado (faltando ainda 4 dias para o derradeiro prazo de conclusão) tornam insuficientes e duvidosos os resultados apresentados, observando-se ainda, que sequer perícia sobre os bens apreendidos foi concluída”, pontua a nota.

“Os familiares de Marcelo Arruda ainda esperam que se faça Justiça, clara, limpa, transparente e saudável como a boa água!”, concluem os advogados.

Polícia ouviu 18 testemunhas

A força-tarefa da Polícia Civil fez 18 oitivas de testemunhas sobre o caso, afirmou a Secretaria da Segurança Pública do Paraná.

Dentre as testemunhas ouvidas, há pessoas que estavam no local do crime e familiares do guarda municipal e do agente penitenciário. A secretaria informa ainda que a análise das imagens foi concluída e a equipe agora se concentra em diligências complementares.

Bolsonaro liga para família de petista

Na terça-feira (12), o presidente Jair Bolsonaro (PL) conversou com familiares de Marcelo Arruda.

Durante a conversa, Bolsonaro disse que não iria discutir política e esclareceu o motivo do convite aos irmãos. “Agora a possível vinda de vocês a Brasília na quinta, se vocês concordarem e se puderem, é ter uma coletiva pra imprensa e vocês falarem o que aconteceu de fato aconteceu”, disse o presidente.

Ele falou ainda que “tudo leva a crer que era um desequilibrado”, referindo-se ao autor dos disparos contra Marcelo Arruda.

Um dos irmãos de Marcelo disse que não aceita que a “esquerda” use o caso de seu irmão como “palco de politicagem”. “Isso aí não ‘tamo’ aceitando, de forma alguma. Falar a verdade tudo bem, mas usar o meu irmão como palco de política, isso aí não ‘tamos’ aceitando”.

O encontro virtual foi intermediado pelo deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ), que disse à CNN ter ido até Foz do Iguaçu a pedido de Bolsonaro. O parlamentar afirmou que foi informado de que a “família de Marcelo Arruda era plural”, e que dois irmãos dele eram “bolsonaristas”.

Justiça decreta prisão preventiva de Guaranho

A Justiça pediu, na manhã de segunda-feira (11), a prisão preventiva de Guaranho.

O requerimento partiu do promotor Tiago Lisboa. A prisão preventiva tem validade até 11 de agosto.

Guaranho se identificava como apoiador do presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais. Ele segue internado em estado grave. O promotor quer que seja instaurado inquérito policial à parte para apurar agressões sofridas pelo autor do fato.

Pré-candidatos à Presidência se manifestaram sobre assassinato

Os pré-candidatos à Presidência usaram as redes sociais e suas assessorias para se manifestar sobre a morte do petista.

O ex-presidente Lula lamentou a morte do correligionário. “Marcelo Arruda comemorava o seu aniversário de 50 anos com a família e amigos, em paz, em Foz do Iguaçu. Filiado ao Partido dos Trabalhadores, sua festa tinha como tema o PT e a esperança no futuro; com a alegria de um pai que acabou de ter mais uma filha”.

Lula ainda afirmou que “uma pessoa, por intolerância, ameaçou e depois atirou nele, que se defendeu e evitou uma tragédia maior”.

Bolsonaro se manifestou no começo da noite de domingo, por meio do Twitter.

“Independente das apurações, republico essa mensagem de 2018: Dispensamos qualquer tipo de apoio de quem pratica violência contra opositores. A esse tipo de gente, peço que por coerência mude de lado e apoie a esquerda, que acumula um histórico inegável de episódios violentos. (…) Que as autoridades apurem seriamente o ocorrido e tomem todas as providências cabíveis, assim como contra caluniadores que agem como urubus para tentar nos prejudicar 24 horas por dia”, postou o presidente.

Ciro Gomes (PDT) descreveu o episódio como uma “tragédia humana”.

“É triste, muito triste, a tragédia humana e política que tirou a vida de dois pais de família em Foz do Iguaçu. O ódio político precisa ser contido para evitar que tenhamos uma tragédia de proporções gigantescas. Que Deus, na sua misericórdia, interceda em favor de nós brasileiros, pacificando nossas almas, e traga conforto às duas famílias destruídas nesta guerra absurda, sem sentido e sem propósito”, finalizou.

O deputado federal André Janones, pré-candidato do Avante para a Presidência, também se manifestou sobre a morte.

“O debate ideológico sem qualquer base racional leva a tragédia que vamos lamentar profundamente. Ninguém vai conseguir explicar essa paixão que leva um ser humano odiar o outro por convicções políticas diferentes. Hoje nós vamos lamentar, desejar condolências às famílias. Mas e amanhã?”, questionou o parlamentar.

“Amanhã nós vamos esquecer como esquecemos o Genivaldo assassinado brutalmente em uma viatura? Aplaudir e agradecer agressores durante discursos em cima de palanques, como feito ontem? Nós vamos no chocar só com o agora? Não vamos mudar essa mentalidade?”, declarou Janones.

Simone Tebet (MDB) afirmou que se solidariza com as famílias de ambos os envolvidos.

“Mas o fato é que esse tipo de situação escancara de forma cruel e dramática o quão inaceitável é o acirramento da polarização política que avança sobre o Brasil. Esse tipo de conflito nos ameaça enormemente como sociedade. É contra isso que luto e continuarei lutando. Tenho certeza que nós, brasileiros, temos todas as condições de encontrar um caminho de paz, harmonia, respeito, amor e dignidade humana suficientemente sólido para reconstruir o Brasil. Que o caso de Foz do Iguaçu faça soar o alerta definitivo. Não podemos admitir demonstrações de intolerância, ódio e violência política”, finalizou a senadora.

O pré-candidato Leonardo Péricles (UP) também usou seu perfil no Twitter para manifestar solidariedade à família de Arruda.

“Nossa solidariedade à família de Marcelo Arruda, dirigente do PT em Foz do Iguaçu, assassinado ontem por um bolsonarista durante sua festa de aniversário. É urgente impedir o avanço do fascismo! Bolsonaro e sua corja vão pagar pelo que estão fazendo do Brasil. Ocupemos as ruas!”, declarou o pré-candidato.

Felipe d’Avila, pré-candidato pelo Partido Novo, também disse que o presidente deveria se pronunciar sobre o caso.

“Estamos caminhando a passos largos para a campanha política mais violenta que já vivemos. O assassinato do tesoureiro do PT, Marcelo de Arruda, em Foz do Iguaçu, era mais uma tragédia evitável. O vergonhoso silêncio de Bolsonaro só piora a situação”, declarou em seu perfil no Twitter.

Luciano Bivar, do União Brasil, escreveu em uma rede social que “é inadmissível [chegar] onde chegamos”. “Esta doença “política” contaminou nossa gente, até aqueles que amamos lá na casa da esquina”, publicou.

No Twitter, o pré-candidato do Pros, Pablo Marçal, escreveu: “A polarização e o ódio, que contaminam o país, produziu mais vítimas. E lamentamos, profundamente, que as famílias dos envolvidos na tragédia de Foz do Iguaçu estejam experimentando a dor que brota da raiz amarga do extremismo”.

Pré-candidata pelo PSTU, Vera Lúcia afirmou que “é inadmissível o assassinato de Marcelo Arruda, militante do PT, cometido por um bolsonarista por motivações políticas”. “Contra a violência da ultra direita e as ameaças golpistas de Bolsonaro, é preciso mobilizar e organizar a autodefesa dos trabalhadores”, acrescentou.

Sofia Manzano, do PCB, publicou no Twitter: “Bolsonarista assassinou Marcelo Arruda, dirigente do PT em Foz do Iguaçu. Episódios como esses podem se tornar frequentes se não houver rápida contenção da violência política incentivada por Bolsonaro e sua quadrilha. Minha solidariedade à família e companheiros.”

 

 

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