As músicas possuem o grande poder de nos impactar, repercutindo em nosso estado de humor, em nossa percepção acerca do mundo, e mesmo servindo como uma poderosa forma de expressão. Por conta disso, escolher o melhor tipo de som para ouvir no dia a dia faz toda a diferença.
Infelizmente, ao longo da história, a música também foi usada para reprimir e induzir determinados comportamentos. Auschwitz, campo de concentração administrado pela Alemanha, localizado no sul da Polônia, é um dos símbolos do Holocausto. Mais de 1,1 milhão de pessoas morreram lá.
Naquele período obscuro marcado pela perseguição aos judeus e outras minorias, o local figura como um dos que fazia uso da música para propósitos nocivos, abafando o barulho do trabalho forçado e determinando o ritmo das atividades realizadas.
No entanto, partituras descobertas mostram que a música também teria sido usada desprovida dessas finalidades. Mais de 200 partituras permaneceram ocultas por anos, mas parte delas, aos poucos, será revelada ao público. E já vamos explicar que há um motivo muito importante para isso.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Em 2015, quando Leo Geyer, maestro e compositor britânico, foi até Auschwitz para verificar de perto o tipo de música que era tocada no campo de concentração, suas piores expectativas foram, ao menos por um momento, deixadas de lado. Lá, Geyer descobriu que os prisioneiros também escreveram seus próprios sons.
Parte das partituras foi danificada, de forma que muitas músicas estejam incompletas, mas ainda assim, em meio a esses fragmentos, registros de pessoas que estavam naquele local ficaram para a posteridade.
Ao comentar sobre as partituras em entrevista ao jornal The Washington Post, Geyer disse que ainda é necessário trabalhar muito para recompor as músicas, dada a grande variedade encontrada. Mas ao mesmo tempo que esse trabalho se mostra desafiador, representa uma das poucas formas de ter contato direto com registros deixados pelos prisioneiros, em grande maioria judeus.
Enquanto muitas dessas músicas presentes nas partituras, a exemplo das marchas, eram tocadas pelas orquestras dos campos de concentração, parte delas fazia parte das composições mantidas em segredo, feitas pelas vítimas da perseguição e do genocídio.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Apesar de lidarem todos os dias com o sofrimento, o medo e a morte, talvez a música tenha oferecido acolhimento àqueles que podiam desfrutar delas, ainda que brevemente. Ao se aprofundar na pesquisa, Geyer também entrevistou sobreviventes do campo de concentração em busca de mais informações sobre os instrumentos utilizados para a reprodução das músicas.
Ou seja, contrastando com melodias fortes e assustadoras, também há sons que comovem por sua atmosfera melancólica, refletindo de uma forma única os sentimentos daqueles que estavam presos no local.
Uma das peças, intitulada "Futile Regrets", de autoria desconhecida, estava entre as que chamaram a atenção do compositor, que decidiu completá-la. Com isso, no final de novembro, a obra reconstruída foi apresentada ao público pela primeira vez em um concerto, realizado em Londres.
E, assim, uma visita que a princípio seria para compor um som em homenagem a Martin Gilbert, famoso historiador do Holocausto, que faleceu em fevereiro de 2015, também se tornou uma oportunidade de fazer com que quatro dessas canções fossem restauradas e compartilhadas anos depois, mantendo viva a memória das vítimas do nazismo.