Em 2017, durante a discussão do parecer da reforma trabalhista na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, houve uma briga coletiva entre os parlamentares, que escalou rapidamente de ataques verbais para a agressão física.
O senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) tentou desferir um golpe contra o colega Randolfe Rodrigues (Rede-AP) após este apresentar requerimento pedindo a suspensão da sessão de votação do texto. A agressão foi impedida pelos senadores Paulo Paim (PT-RS) e por Otto Alencar (PSD-BA), sendo que Ataídes tentou também agredir Paim por isso.
Além de discursos criminosos que infringem a Constituição, ataques pessoais e conotações de baixo-calão, não é de hoje que o Senado brasileiro se tornou uma espécie de octógono de luta livre. Na verdade, o cenário de dissidência política e de ideias já foi ainda maior e perigoso.
Exemplo disso é que, em 4 de dezembro de 1963, há pouco mais de 60 anos, o pai de Fernando Collor assassinou um político no Senado.
Arnon de Mello. (Fonte: OAM/Reprodução)
Escândalos precedem o nome da família Melo, e isso não está apenas relacionado à gestão criminosa e controversa de Fernando Collor de Mello, ex-presidente do Brasil, que levou seu nome para a boca do povo e dos anais da história da política brasileira em 1990. Seu pai, Arnon de Melo, nasceu em 19 de setembro de 1911, em Rio Largo, Alagoas, em uma família que exercia uma considerável influência política e social no estado.
Os Mello ocuparam cargos políticos ao longo do tempo que contribuíram para a reputação e o reconhecimento deles na esfera política local. A participação econômica da família ajudou a consolidar seu poder na região, mas nada seria possível se não fosse pelas muitas redes de relacionamento que eles tinham. Elas foram essenciais para que consolidassem o apoio político, formassem alianças e garantissem uma base na profissão.
O panorama dos Melo foi recheado de disputas políticas internas, como estratégias, alianças partidárias e a distribuição de poder na esfera política local ou nacional. Questões de sucessão, sobre quem deveria assumir papéis ou a liderança em organizações familiares, foram catapultadas por conflitos pessoais.
Silvestre Péricles de Góes Monteiro. (Fonte: História de Alagoas/Reprodução)
Arnon de Melo começou sua carreira política como deputado estadual em Alagoas, chegando a ocupar cargos importantes, como governador do estado e senador em Brasília. O ápice de sua carreira foi quando se tornou presidente do Brasil, em 1955, o primeiro nascido no estado de Alagoas. Apesar de um mandato breve devido a uma série de eventos políticos, ele conseguiu fazer uma passagem suficientemente sólida para deixar sua marca.
No entanto, nenhum desses marcos se equipara ao 4 de dezembro de 1963, quando Arnon decidiu responder com vários tiros à ameaça de morte que havia sofrido do senador Silvestre Péricles de Góes Monteiro.
Há tempos que os senadores discutiam para tentar medir quem era o mais influente em Alagoas, estado de origem de ambos. O clima entre os políticos era tão agressivo e hostil que Auro de Moura Andrada, presidente da Casa, chegou a se preocupar com o andamento daquela rixa.
A situação piorou quando Silvestre disse que Moura Andrada precisava "impedir o ingresso de pessoas suspeitas" (se referindo à Arnon) à Casa.
(Fonte: Acervo Globo/Reprodução)
Como resposta, Arnon sacou um revólver Smith Wesson de calibre 38 e efetuou vários disparos em direção ao seu companheiro cúpula. Nenhum dos tiros atingiu Silvestre, que se jogou ao chão, apesar de também estar armado. Ele se rastejou entre as poltronas do Senado e foi amparado e desarmado pelo colega paraibano João Agripino.
Contudo, o estrago já estava feito. Dois tiros disparados por Arnon acertaram o abdômen de José Kairala (PSD-AC), que havia tentado conter os políticos armados. Naquele dia, Kairala substituía José Guiomard, do mesmo partido, para quem devolveria o cargo no dia seguinte.
Para piorar, Kairala foi baleado e morto na frente do filho pequeno, da esposa e da mãe, que haviam ido prestigiá-lo no último dia de trabalho. O político foi socorrido e levado ao Hospital Distrital de Brasília, mas já era tarde demais.
José Kairala. (Fonte: Histórias de Alagoas/Reprodução)
Por 44 votos a 4, os parlamentares aprovaram a prisão de Arnon e Silvestre, após uma enorme pressão popular. Essa medida foi necessária porque, apesar de os políticos terem sido presos em flagrante, os demais senadores precisavam dar o aval para que fossem encarcerados definitivamente.
Mas, como era de se esperar, isso foi por pouco tempo. Antes do meio do ano de 1964, Arnon já havia sido declarado inocente pelo Tribunal do Júri de Brasília.
Sua trajetória e influência política, aparentemente, apagaram o crime. Após deixar a prisão, Arnon foi nomeado novamente em 1970 para o mesmo cargo que ocupara antes, e assim foi até o seu último dia de vida, em 29 de setembro de 1983. Até lá, nem a mídia e nem as pessoas mencionaram que o político tirou a vida de um inocente em um ato de pura vaidade.