Em meio às páginas da minha história, encontro capítulos repletos de aprendizados, emoções e vivências que moldaram quem sou hoje. Cada episódio, uma lição; cada lembrança, um tesouro guardado com carinho na alma.
Juventude, Rio Branco, Beira Rio. Lá, onde os aromas da Bolívia se misturavam aos sons das fitas cassete e às risadas compartilhadas com amigos, eu trilhava meus primeiros passos rumo à vida adulta. O futebol nos campos de terra batida, os gols bonitos e as derrotas diante do goleiro eram parte do cenário cotidiano, assim como a tranquilidade das tardes passadas à beira do Rio Acre, onde a pescaria se tornava um ritual de conexão com a natureza.
Foi nessas águas que aprendi lições que transcendem o tempo. Entre os piranambus, peixes vorazes que dividiam espaço com os corpos boiando, descobri a arte da pesca e a simplicidade da vida ribeirinha. Ali, cada captura era celebrada como um presente da natureza, e até mesmo os momentos mais sombrios, como a visão dos corpos flutuando, não conseguiam ofuscar a beleza daquele cenário.
Mas a vida me levou por outros caminhos, e foi no quartel do exército que vivi um dos momentos mais marcantes da minha trajetória. Ao bater continência ao capitão, em um gesto de respeito e honra, deparei-me com a incompreensão de seu olhar. Ele me chamou de “mocoronga”, e no pensamento procurei alguma palavra que me esqueço declinada a ele. Naquele instante, percebi a complexidade de um período ditatorial que, aos poucos, cedia espaço à força da liberdade e do respeito mútuo.
Após deixar para trás os dias de farda, retornei ao chão firme de Plácido de Castro, onde encontrei na simplicidade e na honestidade os valores que guiariam minha vida dali em diante. E foi em meio a essa rotina simples, na lavagem de carros do tio Antonio, que aprendi uma das lições mais importantes da minha jornada.
Era em Rio Branco. Recordo-me vividamente dos dias em que, sem recursos para comprar material escolar, meu tio me ofereceu a oportunidade de trabalhar em sua lavagem de carros. No início, confesso, fui desastrado. Lavei cada centímetro do veículo com esmero, mas esqueci de limpar uma parte crucial: a borracha do parabrisa. O dono do carro, ao perceber o descuido, expressou sua insatisfação, e eu me senti envergonhado diante da minha falha.
Foi então que meu tio, com sua sabedoria simples e generosa, me ensinou uma lição que carrego comigo até hoje. Ele não precisou de sermões ou reprimendas; bastou uma conversa franca e um olhar compreensivo para que eu entendesse a importância do cuidado e da atenção aos detalhes em tudo o que fazemos.
Assim, entre piranambus, candirus e continências, entre o rio e o quartel, entre a simplicidade da vida ribeirinha e a disciplina militar, encontrei os pilares que sustentam minha jornada. Gente, o tempo vale ouro. Cada experiência, por mais simples que pareça, contribuiu para a construção do homem que sou hoje, um homem que valoriza cada momento, cada aprendizado e cada oportunidade de crescer e evoluir.
Paulo Roberto de A. Pereira é um entusiasta da leitura e da escrita, aberto a críticas e sugestões, pois reconhece que tudo faz parte de sua jornada de aprendizado. Servidor público e orgulhoso morador de Plácido de Castro-AC, compartilha suas memórias e reflexões como uma forma de inspirar e conectar-se com outros que valorizam a riqueza das experiências da vida.
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