O período de chuvas intensas, conhecido como "inverno amazônico", já chegou e com ele vem um alerta importante para a população: o aumento dos riscos de doenças tropicais, como a dengue e a febre oropouch. Esta época do ano, que se estende de outubro até março na região amazônica, é marcada por umidade elevada e alagamentos, criando condições propícias para a proliferação de mosquitos transmissores dessas doenças, especialmente o Aedes aegypti e o Culicoides paraensis.
A dengue, que afeta milhões de brasileiros todos os anos, encontra nas chuvas do inverno amazônico um ambiente perfeito para se espalhar. O acúmulo de água em recipientes e a falta de cuidados com a eliminação de focos de mosquito fazem com que o Aedes aegypti encontre mais locais para se reproduzir. Pequenos reservatórios, como pneus, latas, garrafas e até pratos de plantas, se transformam rapidamente em criadouros para o mosquito.
A dengue pode se manifestar de forma leve, com febre alta, dores no corpo e fadiga, mas também pode evoluir para formas graves, como a dengue hemorrágica, que pode levar à morte. Durante o inverno amazônico, a vigilância sobre os sintomas da doença deve ser redobrada. “As chuvas tornam o controle do mosquito mais difícil, e as pessoas precisam estar mais atentas à limpeza de suas casas e quintais para evitar o aumento de casos”, explica a agente de saúde Carla Andrade, que atua na região.
Se a dengue já é uma conhecida inimiga, outra doença tropical que começa a ganhar espaço no radar das autoridades de saúde é a febre oropouch, uma arbovirose transmitida pelo mosquito Culicoides paraensis, também potencializada pelo aumento das chuvas e da umidade. Originária da Amazônia, a febre oropouch tem sintomas que se assemelham aos da dengue: febre alta, dores nas articulações, dor de cabeça intensa e mal-estar generalizado.
Embora não tão conhecida como a dengue, a febre oropouch preocupa por sua rápida disseminação em comunidades ribeirinhas e áreas com menos acesso a serviços de saúde. “O número de casos ainda é baixo, mas com o crescimento das chuvas, há um receio de que a doença se espalhe mais rapidamente”, alerta o epidemiologista Jorge Melo, que acompanha de perto o impacto das chuvas na saúde pública amazônica.
Para combater essas doenças, tanto o poder público quanto os cidadãos têm papéis cruciais. As autoridades de saúde intensificam os mutirões de combate aos focos do mosquito e campanhas de conscientização sobre a importância de manter os quintais e áreas urbanas livres de recipientes que possam acumular água. "A população precisa estar ciente de que, no inverno amazônico, cada pequena ação conta para evitar uma epidemia", diz Ana Maria Silva, coordenadora de vigilância sanitária em Manaus.
Além disso, o uso de repelentes, roupas de manga longa e mosquiteiros são recomendados, especialmente para quem vive em áreas de maior risco. As barreiras físicas para evitar picadas de mosquito são uma linha de defesa essencial durante os meses chuvosos, quando os mosquitos estão mais ativos.
O inverno amazônico é, por tradição, uma época que desafia não apenas os sistemas de infraestrutura das cidades da região, mas também os de saúde pública. Com o aumento das mudanças climáticas e a intensificação dos períodos de chuva, doenças tropicais como a dengue e a febre oropouch devem continuar a ser uma preocupação constante. Investimentos em saneamento básico, campanhas de prevenção e diagnóstico rápido são fundamentais para enfrentar os desafios trazidos por esse ciclo anual de chuvas.
O inverno amazônico, com toda a sua beleza natural e força, também exige atenção redobrada da população para garantir que o encanto das chuvas não se transforme em uma armadilha de saúde pública. A luta contra as doenças tropicais é uma batalha que pode ser vencida com a união de esforços entre governo e sociedade, mantendo a vigilância ativa contra os perigos que se escondem nas águas paradas.