Escaravelhos que brotam do chão, ninhos de cobras, flechas disparadas das reentrâncias nas paredes... Estas são apenas algumas das armadilhas que acompanham o imaginário popular quando o assunto são tumbas egípcias – ou, para ser mais sincero, qualquer tipo de tumba antiga.
No entanto, tudo isso não passa de pura ficção, que ganhou o senso comum nos séculos anteriores devido à imaginação de escritores de ficção, beneficiada pela falta de pesquisas históricas. Até o momento, não há evidências de que armadilhas desse tipo em tumbas antigas são reais, apenas alguns truques que podem ter dissuadido ladrões em potencial.
A tumba do primeiro imperador da China, que os arqueólogos até hoje têm medo de abrir, é um bom exemplo disso.
Os dois tipos de medo
(Fonte: Daniele Darolle/Sygma/Getty Images)
Foi em meados de 1974 que agricultores fizeram, de maneira despretensiosa, uma das mais importantes descobertas arqueológicas de todos os tempos. Em um campo na província de Shaanxi, na China, enquanto cavavam para plantio se depararam com fragmentos de uma figura humana feita de barro que, mal sabiam, se tratava apenas da ponta do iceberg.
Depois que os arqueólogos entraram na cena, eles trouxeram à luz do dia uma série de poços repletos de soldados que compunham o Exército de Terracota, cuja missão era proteger o mausoléu próximo de Qin Shi Huang, o mais notório imperador da História da China, que governou a nação de 221 a 210 a.C.
Muito embora grandes partes da necrópole ao redor do mausoléu tenham sido exploradas, a própria tumba de 2 mil anos do imperador nunca foi aberta.
O "Exército de terracota" guarda os arredores da tumba do imperador. (Fonte: Getty Images)
O primeiro medo das autoridades e dos próprios estudiosos é sobre como a escavação pode danificar a tumba, perdendo informações históricas vitais. Apenas técnicas invasivas poderiam ser usadas para entrar nela, podendo causar danos irreparáveis.
O mesmo aconteceu durante as escavações da cidade de Troia, na década de 1870, quando o trabalho de Henrich Schliemann destruiu quase todos os vestígios da própria cidade que ele pretendia descobrir – e os arqueólogos temem repetir os mesmos erros, apesar de toda a tecnologia.
(Fonte: China Photos/Getty Images)
O outro medo é algo pautado em um relato feito pelo historiador chinês Sima Qian, que escreveu a biografia do imperador cem anos após sua morte. Nela, Sima explica que a tumba foi projetada para inundar tudo com mercúrio líquido quando aberta. Estudos científicos ao redor do mausoléu já detectaram níveis de mercúrio significativamente mais altos do que o esperado em um pedaço de terra comum.
Por outro lado, alguns contestam essa ideia, alegando que o mercúrio presente é resultado da poluição industrial no perímetro. Nos escritos de Sima, é dito que o imperador usou o elemento químico em um sistema mecânico para simular os cem rios famosos da China, incluindo o Yangtzé e o rio Amarelo, e também porque acreditava que o mercúrio poderia conceder a imortalidade.
Até o momento, em toneladas de terras de 2.200 anos, o túmulo de Qin Shi Huang permanece selado e invisível, mas não esquecido.