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Em Busca de um Lar: A Luta Diária por um Sonho

Construindo futuros

29/12/2023 às 23h14 Atualizada em 31/12/2023 às 09h43
Por: Paulo Roberto
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Em Busca de um Lar: A Luta Diária por um Sonho

Até os meus dezesseis anos, a vida da nossa família se desenrolava em cômodos apertados, um após o outro, nos recantos diversos de Rio Branco-AC. Não tínhamos um lar próprio, apenas o distante sonho de conquistá-lo. Meu pai, bem, ele não tinha lá muita conexão com a ideia de lar ou mesmo conosco, mas isso não diminuía o amor que nutríamos por ele, apesar de tudo.

Minha mãe, a verdadeira fortaleza, segurava as rédeas da casa. Experimentou várias profissões, mas foi no magistério que encontrou sua verdadeira paixão. Ensinar, ah, não é tarefa simples. Reconheço o valor incalculável das mães e professoras que trilham esse caminho nos dias de hoje. Elas merecem todo respeito e admiração, tanto dos filhos quanto dos alunos e da sociedade.

A ausência de um lar certo nos conduziu ao bairro Cidade Nova nos anos 80, onde um verdadeiro movimento levava pessoas a um lugar chamado Areal, próximo à antiga rodoviária e ao campo do Atlético Acreano. Era como se todos estivessem reivindicando terrenos que, na teoria, pertenciam ao então deputado Adauto Frota.

Recordo-me das conversas entre os moradores, da Dona Maria planejando erguer barracos e minha mãe falando sobre aquisição de tábuas para construirmos o nosso cantinho. Foi assim, passo a passo, que começamos a desbravar um pedaço de terra, demarcando o sonho, a alegria de ter um lugar apenas nosso. Não era uma residência convencional, era um retângulo montado com tábuas e restos da serraria local, coberto por lonas e pedaços de alumínio que o vento ameaçava levar.

Lembro-me vividamente do diálogo entre minha mãe e o Senhor José, preocupada com possíveis problemas. Mas ele nos tranquilizou, dizendo que unidos seríamos fortes, que tudo se resolveria.

Fomos e voltamos inúmeras vezes ao local, transportando pedaços inúteis de madeira da serraria. Meu pai, naquele momento, era uma ausência constante, perdido em algum canto da cidade, buscando diversão e bebida.

Naquele instante, com marteladas e muito alvoroço, nossos corações batiam acelerados, nossos olhos irradiavam esperança. Cada prego cravado era uma vitória, cada lona fixada, um passo mais próximo do nosso lar improvisado. Homens falavam alto, entoavam cânticos, faziam música com o ritmo dos martelos, criando um ambiente de celebração.

Mas então, avistei uma máquina amarela, um trator. Perguntei

à minha mãe, e ela presumiu ser algo do serviço de limpeza do bairro. Só que a máquina não parou, não alterou seu curso. Não recordo de policiais ou autoridades, mas lembro-me dos choros que substituíram a alegria. Choros e gritos de mulheres e crianças enquanto aquela ferramenta amarela, com pneus gigantes, invadia e arrasava as casas.

Lágrimas de desolação inundaram nosso espaço, diluindo nossos sonhos de ter um lar. Minha mãe me envolveu em um abraço e voltamos para aquele quartinho alugado. Mais tarde, ela conseguiu um emprego no colégio das freiras, próximo ao bairro 15. E foi lá, no mesmo bairro Cidade Nova, que as freiras compraram uma casa para nós, simbolizando nossa conquista, o reconhecimento pelo incansável trabalho da minha mãe na educação em Rio Branco.

A vida nos educa a sonhar, a persistir quando os sonhos parecem escapar por entre os dedos. Devemos acreditar e lutar honestamente pela realização dos nossos desejos. Não vale a pena depositar esperanças em coisas que não são nossas, mas cada esforço vale a pena quando se trata de alcançar aquilo que realmente importa.

A história de tantas famílias no Brasil é uma triste sinfonia de lutas similares. Há tantas pessoas sem um lar para chamar de seu, enfrentando um dia a dia incerto, sem saber onde vão encontrar abrigo na próxima noite. A falta de comida na mesa torna o sonho de uma vida melhor um horizonte distante. E trabalho? Bem, é uma busca constante para muitos, uma batalha diária por um mínimo de estabilidade.

E o que é mais surpreendente é que muitos imóveis, tantos deles, permanecem desabitados, enquanto pessoas peregrinam desesperadamente em busca de um cantinho para chamar de lar. É um cenário de desequilíbrio angustiante.

Eu vivi de perto essa situação, como se fosse um reflexo do que estava acontecendo com muitos outros. Conheci a família Silva, lutando bravamente em meio a tempos difíceis. Sem emprego, sem um teto, eles batalhavam todos os dias apenas para garantir uma refeição. A angústia estampada em seus rostos refletia a incerteza que pairava sobre o futuro. Eles eram uma entre tantas outras famílias mergulhadas nessa mesma luta diária.

Mas mesmo enfrentando tantos obstáculos, havia algo notável: a determinação inabalável em não desistir. A dona Maria, matriarca dos Silva, sempre repetia que a única coisa que não poderiam tirar dela era a vontade de seguir em frente. Era essa esperança que os mantinha firmes, mesmo diante de adversidades tão cruéis.

Isso me marcou profundamente. Mesmo quando tudo parecia conspirar contra essas pessoas persistiam, lutavam de forma honesta por suas conquistas. Era como se essa teimosia fosse a única força capaz de mantê-los de pé, mesmo em meio às piores adversidades.

A lição que carrego dessa experiência é que, por mais desafiadora que seja a jornada, é fundamental manter a fé, persistir. Não é algo simples, de jeito nenhum, mas é a honestidade no esforço, a dedicação incansável, que frequentemente nos guiam para superar os obstáculos e alcançar nossos objetivos. E é essa persistência que nos impulsiona, mesmo nos momentos mais sombrios.

O sonho da casa própria é mais do que simplesmente um teto sobre nossas cabeças. É a garantia de dignidade, segurança e esperança. É o símbolo de um lar, um refúgio onde se possa construir não apenas paredes, mas memórias. E para tantos que lutam incansavelmente por esse sonho, cada batalha, cada esforço é um passo em direção a um futuro mais estável e acolhedor. É a promessa de um recomeço, de um lugar para chamar de seu, onde a vida possa florescer em meio às adversidades.

 

Paulo Roberto de Araújo Pereira 

Imagens geradas por inteligência artificial do Bing 

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