O homem mais importante do grupo terrorista Hamas está morto. Ismail Haniya tinha 62 anos e foi assassinado em Teerã, capital do Irã, onde participou da posse do novo presidente do país, Masoud Pezeshkian, na terça-feira (30). A morte foi confirmada pela Guarda Revolucionária iraniana.
Segundo a agência de notícias semi-oficial iraniana Tasnim, o chefe do escritório político do Hamas foi morto “em uma residência especial no norte de Teerã após ser atingido por um projétil aéreo”, durante a madrugada.
A presença de Haniya em um momento tão importante para a nação persa demonstra a influência política e o prestígio que possuía entre diversos governos.
Enquanto Osama bin Laden, ex-comandante do grupo terrorista Al-Qaeda, viveu por anos escondido em cavernas no Paquistão e no Afeganistão, o principal nome do Hamas circulava tranquilamente em hotéis de luxo no Oriente Médio e na África, além de se reunir frequentemente com importantes autoridades dessas regiões.
O agora ex-líder político do Hamas tinha um alvo nas costas, muito mesmo antes de o grupo terrorista palestino atacar Israel, em 7 de outubro do ano passado, iniciando uma guerra que já dura quase dez meses.
“Ismail Haniya é o líder e presidente do Escritório Político do Hamas, que foi designado em 1997 como Organização Terrorista Estrangeira e em 2001 como TGED (Terroristas Globais Especialmente Designados). Haniya tem ligações estreitas com o braço militar do Hamas e tem sido um defensor da luta armada, inclusive contra civis. Ele teria envolvimento em ataques terroristas contra cidadãos israelenses. O Hamas foi responsável pela morte de cerca de 17 americanos em ataques terroristas”, informou o Departamento de Estado americano, em 2018.
Ele foi descrito em diversos jornais árabes e israelenses como sendo um homem “muito rico”, apesar de sua juventude pobre no campo de refugiados de Al-Shati, na Faixa de Gaza.
O acúmulo de dinheiro dele e de outras lideranças do Hamas começou quando a organização fundamentalista islâmica assumiu o controle do território palestino, em 2007, após expulsar violentamente o Fatah (partido político do chefe da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas).
Nos dez anos seguintes, Haniya foi o chefe de governo da Faixa de Gaza, onde foi estabelecido um regime autoritário sem nenhuma nova eleição.
Naquele período, ele enriqueceu com o dinheiro do imposto de 20% cobrado de todos os produtos que entravam por túneis clandestinos a partir do Egito. Segundo a revista saudita Al-Majalla, além dele, outros 1.700 altos-comandos do Hamas ficaram milionários com esse esquema de contrabando tributado — a saída de cidadãos por essas passagens também era cobrada.
Naquela época, Haniya estreitou relações com países como o Catar, a Turquia e o Irã. Sob o comando do Hamas, o Catar injetou mais de US$ 1 bilhão (equivalente a R$ 4,85 bilhões, na cotação atual) na Faixa de Gaza, principalmente por meio de ajuda humanitária.
Haniya se encontra com o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad al-Thani | Divulgação/Governo do Catar
A Turquia, comandada por Recep Tayyip Erdogan, também passou a despejar milhões e milhões de dólares na Faixa de Gaza, dinheiro que, comprovadamente, não era destinado a aliviar o sofrimento da população do território.
Em 2017, a agência de segurança israelense Shin Bet acusou dois palestinos de desviarem dinheiro da reconstrução de Gaza para o Hamas.
Chefes regionais da Tika (Agência Turca de Cooperação e Desenvolvimento Internacional) e da IHH (Fundação Turca de Ajuda Humanitária) tiveram a prisão decretada naquela ocasião.
“A egoísta organização terrorista Hamas roubou fundos destinados aos necessitados de Gaza de organizações internacionais. O Hamas prospera à custa dos residentes da Faixa e usa doações destinadas a eles para financiar o terror”, disse na ocasião o major-general israelense Yoav Mordechai, responsável pela operação.
Em 2020, uma investigação nos Estados Unidos descobriu que o banco turco Kuveyt Turk, sediado em Istambul, manteve conscientemente contas bancárias ligadas ao financiamento do Hamas.
Em dezembro de 2019, Ismail Haniya deixou a Faixa de Gaza. Dois anos antes, ele já havia sido substituído por Yahya Sinwar à frente do governo local.
Vivendo em hotéis cinco-estrelas de Doha, Haniya passou a comandar o Escritório Político do Hamas a distância. Segundo autoridades americanas e israelenses, partiu dele, inclusive, a autorização para os ataques de 7 de outubro.
Após o início da guerra entre Hamas e Israel, o então presidente político da organização terrorista se reuniu com o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei. Os iranianos são os principais apoiadores financeiros e militares do Hamas. Também foi à Turquia, onde encontrou Erdogan, em uma clara demonstração de que tinha “costas quentes” para viajar tranquilamente.
Se não fosse assassinado, Ismail Haniya iria à Turquia nos próximos dias, onde discursaria no Parlamento como convidado.
A família do líder terrorista não saiu ilesa da guerra iniciada por ele. A neta de Haniya, Roa Hammam Haniya, uma estudante de medicina, foi morta em um bombardeio em uma escola na cidade de Gaza, em novembro do ano passado. Em abril deste ano, ele mesmo afirmou que três de seus filhos e quatro netos haviam sido mortos em bombardeios, também em Gaza.
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