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Fisioterapia

Sonho do menino Kinim

29/05/2022 às 01h08 Atualizada em 29/05/2022 às 10h39
Por: Paulo Roberto
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Fisioterapia

O centro comercial de Plácido de Castro contém o ponto estratégico desde outrora, de cujas propriedades e estradas de seringa erguiam-se coronéis de pouca instrução. Os seringais e o matagal cederam lugar a edificações comerciais, e do ar rarefeito, oriundo de réstias florestais empobrecidas, resiste a aspiração de um povo por consumo, trabalho e saúde. Em meio ao fluxo e à demanda, estudar é um verbo que ainda se conjuga com esperança por dias melhores.    

É como se um castelo de sonhos fosse construído gradativamente, com fé, e é por isso que o empresariado ainda aposta na reviravolta da economia tão afetada desde a intensidade do Coronavírus.   

E circulando pelas duas avenidas nos deparamos com as sedes dos poderes públicos constituídos, hospital, drogarias, clínicas, polo universitário, açougues, uma infinidade de trabalhadores autônomos, autoescolas, lanchonetes, restaurantes, correios, hotéis, enfim, comércios em geral a demonstrar oxigenação e resistência, que estacionamos em frente ao consultório de fisioterapia especializada, na Rua Cel. Fontenele de Castro, 141, no centro da cidade, para ouvir a história do jovem Elison Barreto de Souza, que a exemplo de vários profissionais em atividade, sobrevive diante da economia local como senhores do próprio sonho e empreendimento. 

Elison Barreto de Souza é um jovem de 26 anos de idade, natural de Plácido de Castro, que iniciou o ensino pré-escolar na Casinha do Saber. Foi alfabetizado na escola Franklin Roosevelt, e a partir da 1ª série estudou na escola municipal Elias Mansour Simão. Do segundo ao nono ano, na escola José Francisco da Silva. Ainda na metade do período do ensino médio, em 2011, teve que ir para Rio Branco, e lá estudou na escola Heloísa Mourão Marques. No ano seguinte, retornou para Plácido de Castro para, na escola João Ricardo de Freitas, dar sequência aos estudos.  

E como não só de aulas presenciais sobreviveu uma criança de seu tempo, e de certa forma distante da tecnologia reinante dos dias atuais, o que gostava de fazer? 

- Todo mundo me conhecia, e quando minha mãe dava espaço, eu fugia e gostava de passar o dia fora, nas casas das pessoas que eu conhecia. Nós temos um amigo, o Abimael, e na época ele dirigia o ônibus da escola. Então, quando eu estava na rua, e minha mãe preocupada, eu o via passar no ônibus escolar, e acenava; ele parava; eu subia, e a gente ia fazer a rota, ou seja, deixar os alunos da zona rural, e assim eu ficava andando com ele praticamente o dia todo.  

- O ruim de tudo isso é que eu deixava minha mãe aflita, em casa, já que não sabia que rumo eu havia tomado, mas o certo é que meus itinerários nunca me levaram ao caminho do mal: em alguma casa de pessoas conhecidas ou com o Abimael, no ônibus escolar. Essa era a minha infância em Plácido de Castro, no antigo endereço, na Rua Domingos Galdino. 

- Quando passamos a morar no bairro Olaria, a casa ficou maior, o terreno, idem, então eu fiz várias amizades e com uma parte do terreno a gente fez um campinho de futebol.  

- Ali era o nosso ponto de diversão, pois eu conheci vários amigos. Fazíamos torneios de futebol; brincávamos da manja, de bandeirinha, da barra, de várias brincadeiras. Meu hobby era jogar futebol com os meus amigos no meu campinho.  

- Naquele tempo tinha uma galerinha desconhecida que aparecia por lá, e nós acolhíamos como se fossem pessoas conhecidas da nossa turma, e foi assim que fiz várias amizades que até hoje subsistem em meu círculo.  

- O lugar era referência àqueles que gostavam de brincar de bola, principalmente. Esse tempo marcou a minha vida. Onde quer que se chegasse na cidade, era só perguntar onde era o campo do Kinim, que não havia erro, porque as pessoas e a molecada sabiam onde ele estava localizado, instalado no bairro que era o centro da diversão desportiva.  

Filho dos servidores públicos Francisco Tavares de Souza e Arlene da Silva Barreto Tavares, recorda-se de um episódio inusitado de quando criança, época que seu pai era candidato a prefeito de Plácido de Castro. 

- Na época, meu pai se candidatou às eleições. Eu era o cabo eleitoral mais forte que ele tinha, e em qualquer lugar que chegássemos eu ia pedindo voto para ele, para que votassem no meu pai, e cantava todas as músicas dos vereadores, e dele. Eu era bem esperto, mesmo sendo pequeno.  

- Aí teve uma situação engraçada. Nós estávamos num local onde o Sr. Luiz Pereira, também candidato, estava. Então eu me aproximei dele, puxei-lhe pela calça, e disse assim: O senhor é o seu Luiz Pereira? Ele respondeu que sim. Aí eu disse: Você vai perder para o meu pai, viu! Essa foi uma situação engraçada e ao mesmo tempo constrangedora, de forma que o meu pai ficou envergonhado naquele momento.  

Elison Barreto é privilegiado por não ter enfrentado dificuldades financeiras na vida, pois do esforço conjunto de seus pais o pão de cada dia nunca lhe faltou à mesa, e o necessário para sobreviver com dignidade, já que de amor e carinho era suprido constantemente. 

Diz que o aprendizado e o incentivo que herda dos pais foi lutar pelos objetivos, ser honesto, amar o próximo e amar a família. 

Fisioterapia: Sonho e realidade 

- Em 2011 eu jogava na categoria de base do Rio Branco, e acabei me machucando, e aí foi a primeira experiência que eu tive com a Fisioterapia. Eu retornei para Plácido no mesmo ano, e aqui eu fui fazer o tratamento da minha lesão, no posto. Foi onde eu conheci realmente a Fisioterapia, e sempre a minha mãe dizia que eu tinha jeito para o ofício. Então essa experiência que eu tive e minha mãe falando que eu tinha jeito, acabou despertando mesmo o desejo e ser fisioterapeuta, de conhecer mais a fundo a Fisioterapia.  

- No início, como tudo era novo para mim, experiência nova, eu me assustava, mas ao mesmo tempo era estimulado, entusiasmado. Então, logo fiz amizades, formamos grupo de estudo. Era um pouco cansativo porque no primeiro ano de faculdade eu saía de Plácido de Castro todos os dias, e voltava. Isso nos deixava bastante cansados.  

- Mas durante a viagem, naquele ônibus, tendo inclusive colegas do ensino médio também nesse propósito de estudar em Rio Branco, algo diferente nos tornava felizes e ao mesmo tempo esperançosos, otimistas, porque conversávamos, brincávamos, era tudo novo para todo mundo. Então muitas vezes a viagem tornava-se legal por conta disso, mas não deixava de ser cansativa pelo fato de termos que ir e regressar num somatório de mais de 200 quilômetros diários. 

- Nós saíamos de Plácido de Castro no máximo 16h, para chegar por volta das 18h em Rio Branco, e retornávamos no máximo às 22h de Rio Branco para podermos chegar ao nosso destino por volta de meia-noite. Às vezes a estrada não estava boa; às vezes ocorria imprevisto de o ônibus “quebrar”, mas através do diálogo com os amigos do coletivo estudantil, da troca de informações sobre a faculdade, dos cursos e de fazer novas amizades numa rotina totalmente diferente de estudos, minimizava, e muito, a angústia de espera do passar do tempo da nossa trajetória tanto de ida quanto de volta. 

- Em 2014 eu passei um ano inteiro nessa situação de ida para a faculdade e retorno a Plácido de Castro. Em 2015 tive que me mudar para Rio Branco, porque teríamos o estágio, não havendo como eu permanecer em minha cidade, ficando na capital até o ano 2018.  

Em 2018, Elison retorna para Plácido de Castro, formado, e com ideias de pôr em prática as atividades ligadas à Fisioterapia. Relata que não foi fácil. 

- Não foi fácil, pelo fato de eu ser recém-formado, e as pessoas não conhecerem o meu trabalho. Eu tentei fazer algumas parcerias e alguns projetos, mas acabaram não dando certo, mas eu não desisti.  

- Eu lutei, batalhei, acreditei e ainda acredito que esse é o caminho. Lá atrás, no começo, eu plantei, e hoje, graças a Deus, estou colhendo muito bem o que foi plantado. 

Elison permaneceu em Plácido de Castro de 2018 a 2019, sendo que em 2020 retornou para a capital, onde trabalhou no Rio Branco Football Club, o Estrelão, participando de campeonatos nacionais, a exemplo da Série D. Em 2021 retornou para Plácido de Castro.  

Vale a pena ser fisioterapeuta? 

- Vale demais. Eu não vejo outra coisa melhor. Ajudar as pessoas através do seu trabalho, receber um paciente que estava sentindo muita dor, que não estava fazendo suas atividades diárias; tirar-lhe a dor e recolocá-lo à vida habitual sem dor nenhuma, não tem coisa melhor. Dar a funcionalidade ao paciente isso para mim é gratificante. Pegar um paciente que teve que passar por cirurgia por conta de alguma fratura e vê-lo melhorando através do seu trabalho, não tem sensação melhor.        

Sobre uma mensagem que transmita ou fortaleça a profissionais de sua área 

- Uma palavra de incentivo aos profissionais da minha área que trabalham aqui na cidade de Plácido de Castro, especificamente no meu caso, é a esperança. Eu sempre fui positivo, sempre acreditei que Plácido de Castro terá dias melhores, e sempre acredito que aqui pode, e vai desenvolver. Então, a esperança é o que me move. 

- Temos outros colegas fisioterapeutas que trabalham no Município de Plácido de Castro, e cada um com sua história.  

- Aqui em Plácido de Castro eu faço atendimento no consultório e também por home care (atendimento domiciliar). Se o paciente não puder ir ao consultório, nós vamos até ele. 

Pergunto-lhe se durante as atividades práticas do curso, onde estagiou e o que achou, e se teve receio de recuar, de procurar outra profissão. 

- Nas atividades práticas da faculdade eu passei por vários estágios que foram experiências maravilhosas, que me moldaram para ser o profissional que eu sou hoje.  

 Então eu passei pelo Lar dos Vicentinos, que é uma casa de acolhimento ao idoso; passei pelo Souza Araújo, que é uma casa de acolhimento aos hansenianos; passei pela Unidade de Terapia Intensiva da Fundação, pela respectiva enfermaria, experiências essas necessárias e maravilhosas que eu tive que passar para poder me moldar e me transformar no profissional que sou hoje.  

- Eu nunca pensei em desistir desde o momento que me matriculei no curso superior, pois sempre fui focado e sempre acreditei na Fisioterapia e nunca pensei em procurar outra profissão.  

Um jovem como você, o que sonha para o futuro? 

- Sonho com uma Plácido mais desenvolvida, com mais oportunidades, com o meu empreendimento bem estabelecido, e que através dele eu possa dar oportunidade para o povo placidiano através da minha loja de suplementos, através da clínica de fisioterapia, e assim eu continue ajudando as pessoas através do meu trabalho.   

Uma mensagem à juventude placidiana 

- Nunca deixe de acreditar em dias melhores. Que sejam sempre positivos; que estudem, porque o estudo abre portas e dá oportunidade, e a gente precisa, também, se posicionar. A juventude placidiana precisa se posicionar mais, ser mais firme para poder ajudar a desenvolver Plácido de Castro, ajudar a dar oportunidade para a sociedade. Precisamos de uma posição mais firme para que possamos ter representantes jovens, tanto na Câmara Municipal quanto na Prefeitura, assim como em outros cargos também importantes. É o que está faltando e é o que eu gostaria de ver.  

No período do curso, enfrentou dificuldades? 

- Sim, a adaptação. É muito difícil estar longe dos pais, mesmo que seja em Rio Branco; estar longe dos amigos, porque muda totalmente a rotina; a rotina de estudos com carga-horária bastante pesada. Houve vezes que eu tinha que amanhecer na faculdade e só ir para casa lá pelas dez da noite, só quando estava morando em Rio Branco. Também no começo essa ida e vinda muito cansativas. 

-Fiz meu curso na Faculdade Uninorte. Iniciei em 2014 e finalizei em 2018. 

O que faz o fisioterapeuta? 

- É um profissional que trabalha tanto na recuperação de lesões ou disfunções do movimento do corpo humano, quanto na prevenção.  

- Eu atuo na área de fisioterapia traumato ortopédica e desportiva. Atendo pacientes que têm fraturas, lesões ligamentares, lesões musculares, articulares, enfim. Também atendo pacientes atletas, seja ele profissional ou amador (aquele que joga futebol no final de semana). 

- Sou especialista em fisioterapia traumato ortopédica e desportiva, e também sou especialista em fisiologia do exercício.    

 

Elison esclarece que além do consultório de fisioterapia, ele e a esposa Catlen Paula Sarah têm a 2B Suplementos, loja de suplementos que ajuda e auxilia as pessoas a melhorar a qualidade de vida, a ganhar massa muscular, a perder gordura, a melhorar a performance.  

Trabalham, também, com moda fitness, roupas que são vendidas por sua esposa, e futuramente trarão acessórios, tais como joelheiras, luvas, camisas, shorts masculinos e femininos e várias novidades.  

Importante esclarecer que Elison Barreto fez parte da fundação da primeira liga de Fisioterapia traumato ortopédica do Estado do Acre, enquanto acadêmico.  

Além da companhia da esposa no desdobramento das atividades, conta com a parceria profissional do fisioterapeuta Augusto Queiroz.   

Dedicatória  

- O título de fisioterapeuta eu dedico aos meus pais que sempre me ajudaram e me incentivaram a estudar, me deram essa oportunidade; à minha esposa Catlen, que me ajudou bastante, me deu muita força, e nos momentos mais difíceis quando da feitura do meu TCC, foi ela que me ajudou na elaboração do que seria permitido (formatação do meu trabalho, redação de parte do meu texto etc.), são essas pessoas que eu dedico esse título, pessoas especiais que eu amo, e sem elas com certeza eu não teria conseguido.  Mobilidade resgatada 

A história de Elison comporta situações vivenciadas por todo aquele que acredita no estudo com as ferramentas do saber em prol dos objetivos, a exemplo do transporte diário no percurso superior a 200 quilômetros entre idas para a faculdade e retorno ao lar, tendo chances de abraçar e reconhecer o valor dos familiares todos os dias, embora que tarde se deite.

De outro giro, existem aqueles que, imbuídos de sonhos, amor e sofrimento, embarcam para diferentes estados e países em busca do ensino e qualificação, de aprovação em exames admissionais, validação e ingresso ao ambiente de trabalho, e todo aquele que concentra fé e esperança na saúde populacional, como um ofício, tem no coração o dúbio sentimento de amar a si e ao próximo. Se por um lado dezenas ou centenas de jovens placidianos validam passaportes com prantos e alegrias, por força de outras opções e oportunidades, estudar é, sem dúvida, o presente que se prepara sem necessidade de embalagem, porque é transparente. 

Apesar do sofrimento e do cansaço, nada supre o aconchego da família. Ausentar-se dele, tudo é mais cansativo e triste.  

Reservo-me, neste espaço, a ouvir e a contar sua história, agradecendo, sempre, aos que aqui se pronunciaram com a mais nítida transparência, bem como a todos os profissionais atuantes no Município de Plácido de Castro, pois estar com saúde num mundo tão contaminado, a mobilidade é a fé; a crença, certeza que Deus opera, e que esses homens são por Ele guiados.  

Sobre o autor

Paulo Roberto A. Pereira é morador de Plácido de Castro desde 1985. Servidor público, bacharel em Letras Língua Portuguesa e em Direito (UFAC/FAAO). Aprovado no Exame da OAB. Pós-graduado em:

  • (1) Direito Previdenciário;
  • (2) Direito da Criança, Juventude e Idosos;
  • (3) Direito da Família - Universidade Cândido Mendes    

 

 

 

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