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Acre: Meu Chão, Meu Pedaço de História

Das ondas do rádio aos ecos do futuro

24/08/2024 às 21h35 Atualizada em 25/08/2024 às 12h25
Por: Paulo Roberto
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Minha paixão pelas letras não ficou apenas no hobby e no discurso intencional de formatura. Foi naquele Acre dos anos 90, entre as ondas do rádio e as cartas que chegavam pelos Correios, que conquistei meus certificados e diplomas. Cada "canudo" que adquiri nessa época representa não só conhecimento formal, mas também a determinação e a sede de saber de um povo que, mesmo distante dos grandes centros, nunca deixou de sonhar e se educar.

Meus caros, o tempo é como as águas do nosso majestoso rio Abunã e dos igarapés que o circundam - corre sem parar, levando consigo nossas lembranças, mas deixando para trás um rastro de histórias que merecem ser contadas. Sou filho desta terra abençoada, o Acre, e quero compartilhar com vocês um pouco do que vi e vivi neste pedaço de chão amazônico que chamo de lar.

 

Lembro-me como se fosse ontem. Era início dos anos 90, e nós, jovens daquela época, vivíamos num mundo bem diferente do de hoje. Não tínhamos essa tal de internet, nem celular na palma da mão. Nossa conexão com o mundo lá fora vinha pelas ondas do rádio e pelas gigantescas antenas parabólicas que enfeitavam os telhados da cidade. Tínhamos, como ainda hoje, as encomendas físicas dos correios: cartas, certificados para colocarmos nas paredes, catálogos e mais catálogos para sonharmos um pouco em ser gente de posse. Era por ali que a gente ficava sabendo das novidades, das músicas que tocavam lá no Sul e até das notícias de outros países.

Falando em música, quem não se lembra da Rádio Paraíso FM? Aquela rádio boliviana, lá no lado de lá, descendo a escadaria e pegando catraias e canoas? Ela ficava na localidade nominada Montevidéo, comandada pelos irmãos Ângelo e Augusto, era a sensação! A gente ficava grudado no rádio, esperando nossa música preferida tocar, ouvindo recados e mensagens. Era uma alegria só quando o locutor lia as cartinhas no ar!

Mas nem só de música vivia a juventude de Plácido de Castro. Nos fins de semana, o point era o estádio municipal. Rapaz, aquilo sim era uma festa! Times da cidade e da zona rural se encontravam pra bater uma bolinha, e a torcida vinha em peso. Era bonito de ver a união do povo. Claro que às vezes rolava umas confusões, umas "pernadas" mais fortes, mas no fim das contas, todo mundo saía junto pra tomar uma gelada e comentar o jogo.

E a fartura de peixe? Meu Deus do céu! O rio Abunã era generoso demais com a gente. As branquinhas nadando abaixo das uranas (aquelas plantas que crescem na beira do rio, sabe?), os peixes de couro, os piaus de cabeça gorda... Era só jogar a rede que vinha peixe pra semana toda. Pena que hoje em dia a piracema já não é mais a mesma. O homem foi mexendo demais na natureza, e agora a gente sente falta daquela abundância na mesa.

Mas nem tudo eram flores, não. A vida era dura pra quem não tinha emprego fixo. Eu mesmo ralei muito como diarista do sogro antes de entrar pro serviço público, e meu primeiro emprego foi testar os dedos quase engessados de conseguir ao menos uma linha de palavras numa máquina de datilografia, porque não havia oportunidade. Lembro de comprar minhas camisas de viscose lá na dona Neuda, economizando cada centavo; de tomar coca cola de garrafinha no Demar, irmão da Nete, ali ao lado do comercial Nunes. E o fusquinha do seu João Conrado? Aquele carrinho era a inveja da mulecada! 

Foi nessa época que eu decidi que queria mais da vida. Comecei a devorar os livros da Ediouro, pegava emprestado o que podia e vivia enfiado em casa e alguma vez na biblioteca. Não tinha Google pra facilitar as coisas, não. Era na raça mesmo! E foi assim que consegui me preparar pros concursos e entrar pro serviço público. Tudo foi tão rápido que o tempo é como uma águia que observa a presa lá de cima: num piscar de olhos, a vida muda completamente.

Ah, e como esquecer das minhas idas à rádio local? Colocava música pros ouvintes de Plácido e dos seringais vizinhos. Era uma alegria sem tamanho! Fiz amizades que carrego até hoje com pessoas que não dá para citar para não atrapalhar a boa prosa pelo esquecimento e lapso que devo cometer. Quem tem bons amigos não deve ter esquecimento.

Mas nem tudo foram alegrias. Passei por momentos difíceis também. Uma apendicite quase me levou dessa pra melhor. Foi aí que vi o verdadeiro valor da amizade e da solidariedade do povo acreano. Gente que eu nem conhecia direito estendeu a mão pra me ajudar. São anjos que a gente encontra pelo caminho, e por isso mesmo darei mais atenção ao tempo de sentar e relatar tudo direitinho em breve.

E quando finalmente passei no concurso do Tribunal de Justiça? Foi uma mistura de alegria e medo. Tive que me mudar pra Senador Guiomard, longe de tudo que conhecia. No começo, a grana era curta, vivia de pão e só comia direito quando voltava pra Plácido nos fins de semana. Mas a gente é forte, né? Resisti e hoje posso contar essa história com orgulho.

Meus amigos, a vida é assim mesmo. Cheia de altos e baixos, de alegrias e desafios. Mas o que importa é que a gente não perca a esperança. Aqui no Acre, a gente aprendeu a ser forte e resistente como as seringueiras. Pode vir tempestade, que a gente se dobra, mas não quebra!

Hoje, olhando pra trás, vejo que cada momento foi importante pra me tornar quem eu sou. As brincadeiras de criança, os sonhos de adolescente, as lutas da juventude... Tudo isso faz parte da minha história e da história do nosso Acre.

E você, meu caro leitor? Que memórias guarda desse nosso pedacinho de Brasil? Que histórias tem pra contar? Porque são essas histórias, as suas, as minhas, as nossas, que fazem a verdadeira riqueza dessa terra.

Vamos em frente, com a força dos nossos rios, a sabedoria da nossa floresta e o calor do nosso povo. Porque o Acre, meus amigos, não é só um lugar no mapa. É um lugar no coração.

 

 

Paulo Roberto de Araújo Pereira

Servidor Público

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