A natureza que engloba a Terra é definitivamente planejada para funcionar de uma maneira completamente orgânica, porém é inegável dizer que muitas coisas que acontecem nela parecem fantasticamente estranhas. Um exemplo disso é a vida sexual surpreendente de criaturas como os insetos. Em seu livro Sexus Animalis, a pesquisadora Emmanuelle Pouydebat disserta sobre o tema.
No reino animal, podemos encontrar os mais variados tipos de comportamento, desde heterossexuais a animais homossexuais, bem como monogamia, poligamia e poliandria — fêmeas que se relacionam com múltiplos machos —, sem mencionar a grande variedade de "modelos" sexuais entre as espécies. Contudo, embora tudo seja extremamente fascinante, alguns seres chamam mais atenção do que outros.
(Fonte: Wikimedia Commons)
Em sua obra, Pouydebat destaca como as fêmeas de Nicrophorus vespilloides castram quimicamente os machos para torná-los monogâmicos. No entanto, os piolhos do gênero Neotrogla usam uma estratégia ainda mais radical. Esses pequenos insetos, com cerca de 3 milímetros de comprimento, vivem em cavernas secas no Brasil, onde parecem se alimentar de guano e carcaças de morcegos. Até aí tudo normal.
Contudo, esse é um dos poucos casos na natureza que temos sobre inversão sexual: os órgãos genitais dos machos e mulheres funcionam ao contrário. Nesse caso, as fêmeas são as responsáveis por penetrar os machos com uma espécie de "pênis falso", chamado ginossomo. O objetivo desse órgão é justamente obter nutrientes e esperma de seu parceiro, em um acasalamento que dura entre 40 e 70 horas.
Essa técnica, contudo, é mortal. Quando o ginossomo é removido do macho, o abdômen do parceiro também é arrancado, criando uma ferida mortal. Os nutrientes obtidos, por sua vez, são vitais para que ela consiga conceber óvulos. Logo, é quase como se os machos atuassem como bancos de esperma para garantir que sua espécie sobreviverá mais um dia.
(Fonte: GettyImages)
Outro comportamento sexual bastante curioso citado por Pouydebat acontece entre as libélulas do gênero Zygoptera. Entre muitos insetos, a morfologia do pênis dos machos combina perfeitamente com a anatomia interna dos órgãos genitais femininos. Para acasalar, o macho muitas vezes monta em sua parceira — ou vice-versa. Porém, não é nada anormal que o casal adote outras posições sexuais.
O que é notável nessas libélulas é que elas produzem espermatozoides em uma extremidade do seu abdômen, enquanto seu órgão copulador está localizado na base. Para remediar a situação, o macho dobra seu corpo antes do acasalamento para encher seu órgão de espermatozoides. Durante o sexo, essas criaturas podem se unir numa figura em forma de coração, o que pode parecer poético, mas também representa seus riscos.
A competição entre machos é ferrenha na época de acasalamento, algo que é extremamente bom para as fêmeas, mas perigoso para eles. Como forma de otimizar a transmissão dos genes, as fêmeas apresentam espinhos e farpas em seus órgãos. Então, por alguns minutos, os machos passam boa parte do tempo basicamente "raspando" o sêmen deixado por outro parceiro que veio antes. Dentro da espécie, quem copular por último basicamente garantirá que seus genes sejam passados para frente.
A supressão do espermatozoide de rivais é algo que acontece por meios químicos em outras espécies. Inclusive, alguns mosquitos possuem substâncias que atuam para expelir qualquer espermatozoide depositado posteriormente, numa prova bizarra de como a natureza sexual das criaturas que existem em nosso mundo pode ser magnificamente curiosa.
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