Até bem pouco tempo acreditava-se que existiam quatro espécies de sucuri no mundo, essas serpentes gigantescas, pertencentes ao gênero Eunectes: a Eunectes murinus (sucuri-verde), Eunectes notaeus (sucuri-amarela), Eunectes beniensis (sucuri-de-beni) e Eunectes deschauenseei (sucuri-malhada).
Observadas sobretudo em rios e ambientes aquáticos da América do Sul, incluindo o Brasil, as sucuris-verde são alguns dos animais mais temidos da Amazônia. Não são venenosas, mas extremamente rápidas e matam suas presas por constrição, ou seja, – sufocando-as e quebrando seus ossos. Essas serpentes pode digerir jacarés, antas e veados.
Todavia, uma descoberta surpreendente acaba de ser anunciada por um grupo de pesquisadores internacionais, entre eles, alguns brasileiros. Na verdade, a sucuri-verde não é apenas uma espécie, mas duas.
Após análises genéticas realizadas em laboratório com amostras coletadas de diferentes espécimes em nove países, confirmou-se que há realmente duas espécies de sucuri-verde.
“A primeira delas é a espécie conhecida, Eunectes murinus, que vive no Peru, Bolívia, Guiana Francesa e Brasil. Demos-lhe o nome popular de sucuri-verde-do-sul. A segunda espécie recém-identificada é Eunectes akayima ou sucuri-verde-do-norte, encontrada no Equador, Colômbia, Venezuela, Trinidade, Guiana, Suriname e Guiana Francesa”, explica Bryan Fry, professor da Escola de Meio Ambiente da Universidade de Queensland e um dos coautores do artigo científico recém-divulgado sobre a descoberta na publicação MDPI Diversity.
Os pesquisadores ficaram surpresos com o achado, dado o tamanho desse vertebrado que a ciência já conhece há tanto tempo. Fêmeas podem chegar a 7 metros de comprimento e a pesar mais de 250 kg.
Uma sucuri-verde-do-norte na beira de um rio | (Foto: Bryan Fry)
Apesar de parecerem praticamente idênticas, as duas espécies de sucuri-verde apresentam um nível de divergência genética de 5,5% – para se ter uma ideia do que isso representa, o ser humano e os grandes primatas, como gorilas, chimpanzés e bonomos compartilham 98% do mesmo DNA, ou seja, há uma divergência de apenas 2% entre eles.
Os cientistas conseguiram identificar ainda quando no passado essa serpente se dividiu em duas espécies diferentes: há quase 10 milhões de anos.
Momento de reprodução da sucuri-verde, quando ela se transforma numa “bola” | (Foto: Jesus Rivas)
Os estudos que confirmaram a descoberta da nova espécie de sucuri se deram a partir das filmagens da National Geographic para a próxima série da Disney+, Pole to Pole, da qual o ator Will Smith participa. A expedição contou com a ajuda do povo Waorani, e por essa razão, o cacique Penti Baihua, figura entre os autores do artigo científico.
Mapa acima mostra a distribuição geográfica das diferentes espécies | (Imagem: Rivas et al 2024)
Para os cientistas, a descoberta que essas serpentes são duas e não somente uma espécie é importante para traçar estratégias de conservação, mesmo que elas vivam no mesmo tipo de habitat.
“O desmatamento da Bacia Amazônica devido à expansão agrícola resultou em uma perda estimada de habitat de 20 a 31%, o que pode impactar até 40% de suas florestas até 2050”, alerta Fry. “Outro problema crescente é a degradação do habitat devido à fragmentação da terra, liderada pela agricultura industrializada e pela poluição por metais pesados associada à mineração. Os incêndios florestais, a seca e as alterações climáticas também são ameaças notáveis”.
Detalhe da cabeça da nova espécie descrita, a sucuri-verde-do-norte | (Foto: Bryan Fry)
Mín. 22° Máx. 31°