O caso dos "canibais de Garanhuns" é uma daquelas histórias que parece ter saído diretamente de um filme de terror, mas que, infelizmente, aconteceu de verdade. Em uma pequena cidade no agreste de Pernambuco, três pessoas cometeram uma série de crimes tão grotescos que continuam a chocar a sociedade até hoje.
Jorge Negromonte da Silveira, Isabel Cristina Torreão Pires e Bruna Cristina Oliveira da Silva formaram um trio amoroso macabro, envolvido em assassinatos, canibalismo e até rituais de uma seita, com um detalhe perturbador: ao que se acredita, eles vendiam salgados recheados com carne humana.
Assassinos canibais não são só coisa de filme. (Fonte: Getty Images / Reprodução)
Tudo começou com o desaparecimento de Giselly Helena da Silva, cuja ausência foi notada por seus familiares. A investigação policial se intensificou quando o uso indiscriminado do cartão de crédito de Giselly em lojas locais levantou suspeitas. Seguindo essa pista, a polícia chegou ao trio que morava em Garanhuns.
A situação se revelou ainda mais horrível quando, ao revistar a residência deles, os policiais encontraram corpos enterrados no quintal e descobriram que as vítimas haviam sido mortas, esquartejadas e suas carnes usadas para preparar salgados vendidos na cidade.
O trio, que também era um trisal, não agia apenas por crueldade pura; eles faziam parte de uma seita chamada Cartel, criada por Jorge, que pregava a purificação do mundo e o controle populacional. Segundo eles, o consumo de carne humana fazia parte de um ritual de purificação.
Os membros da seita professavam que cada morte tinha um significado especial ligado aos quatro elementos (ar, terra, água e fogo), e planejavam uma quarta morte para completar seu ciclo e abrir um "portal para o paraíso". Felizmente, foram presos antes que pudessem realizar essa última atrocidade.
Isabel algemada pela polícia. (Fonte: Kleyvson Santos, Folha de Pernambuco / Reprodução)
As investigações revelaram que as vítimas eram Jéssica Camila da Silva Pereira, morta em 2008, além de Giselly Helena da Silva e Alexandra da Silva Falcão, assassinadas em 2012.
Jéssica, uma jovem de 17 anos que vivia nas ruas, foi atraída pelo trio com a promessa de abrigo, mas acabou brutalmente morta. O corpo de Jéssica foi desmembrado, com algumas partes sendo consumidas pelo trio e outras vendidas como salgados. A filha de Jéssica, então com um ano, foi alimentada com a carne da própria mãe sem saber.
Quatro anos depois, a mesma prática foi aplicada às outras duas vítimas. Elas foram assassinadas a peixeiradas, levadas ao banheiro para que Jorge retirasse todo o sangue e, por fim, esquartejadas. Giselly foi atraída e morta no dia 25 de fevereiro, enquanto Alexandra passou pelo mesmo processo em 12 de março.
Como mencionado, a macabra rotina do trio só foi descoberta em 2012, quando a polícia, rastreando o uso do cartão de crédito de Giselly, chegou à casa deles.
No local, os militares contaram também com a ajuda da filha de Jéssica, então com cinco anos, que ainda vivia com os assassinos e que foi quem revelou os detalhes dos crimes ao delegado. Com essas informações, os policiais conseguiram encontrar os corpos enterrados no quintal.
As confissões vieram em seguida, e os detalhes revelados pelos criminosos chocaram ainda mais a população.
Jorge, Isabel (centro) e Bruna foram condenados pelos crimes brutais. (Fonte: Katherine Coutinho, G1 / Divulgação)
Inicialmente, os três acusados tentaram vender a ideia de que tinham problemas psiquiátricos, para que assim pudessem ser entendidos como inimputáveis e, dessa maneira, conseguissem se livrar do júri popular.
Contudo, tal tese não foi aceita, sendo Jorge o único dos três a ter o diagnóstico para algum transtorno psiquiátrico, no caso, a esquizofrenia, condição que não tirava dele a capacidade de entender a gravidade de seus atos.
Jorge, inclusive, chegou a escrever um livro chamado Revelações de Um Esquizofrênico, onde conta suas experiências, reflexões e até coisas sobre a seita.
Assim, o julgamento dos Canibais de Garanhuns ocorreu em 2014, onde foram inicialmente condenados a mais de 20 anos de prisão. No entanto, após um júri popular em 2018, as penas foram aumentadas para 71 anos para Jorge e Bruna Cristina, e 68 anos para Isabel.
Atualmente, Jorge cumpre pena na Penitenciária Barreto Campelo em Itamaracá, enquanto Isabel e Bruna estão na Colônia Penal Feminina de Buíque.
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