O debate promovido pela Rede Globo teve inúmeras trocas de farpas entre os candidatos à Presidência da República. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o Padre Kelmon (PTB), por exemplo, precisaram ter o microfone cortado pelos produtores do evento. O presidente Jair Bolsonaro (PL) e a senadora Soraya Thronicke (União Brasil), por sua vez, trocaram acusações de corrupção. O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o empresário Felipe d’Avila (Novo) relembraram os escândalos de corrupção durante os governos petistas. Simone Tebet (MDB) escolheu Bolsonaro e Lula como alvo.
Lula versus Padre Kelmon
A discussão teve início depois de Kelmon ter dito que Lula era o líder do maior escândalo de corrupção da história mundial. Lula rebateu e acusou o petebista de estar desinformado. Kelmon, então, interrompeu o candidato do PT — o que provocou desconforto no mediador do debate, o jornalista William Bonner.
“Candidato Kelmon, não consigo entender”, advertiu Bonner. “Já falei algumas vezes. O senhor compreendeu que há regras no debate? O senhor concordou com elas, basta cumpri-las. Quando seu adversário estiver falando, é só aguardar. O senhor terá direito à réplica. É assim que funciona.”
“Candidato laranja não tem respeito por regra”, afirmou Lula, ao retomar o discurso. “Candidato laranja faz o que quer.”
Depois, ambos os candidatos trocaram agressões verbais. “O senhor tem de respeitar um padre”, advertiu Kelmon. “O senhor é um padre fantasiado”, respondeu Lula. A troca de farpas motivou nova intervenção de Bonner, que pediu à produção do debate que cortasse o microfone dos candidatos. “Peço desculpas ao público, porque, infelizmente, não está havendo o cumprimento do ordenamento que havia sido feito com todos os candidatos”, disse.
Caso Celso Daniel
Lula teve de lidar com críticas ao seu governo e com menções ao assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito petista de Santo André (SP). Em pergunta a Simone, Bolsonaro mencionou o suposto envolvimento do petista morte de Daniel, em 2002, citando uma declaração recente sobre o caso da senadora Mara Gabrilli (PSDB), vice na chapa da emedebista.
O ex-presidente pediu direito de resposta e falou sobre o tema. “O Celso Daniel era meu amigo e foi o melhor gestor público que esse país teve”, rebateu Lula. “Ele foi chamado para coordenar o meu programa de governo de 2002. Você vem culpar o Lula pela morte do Celso Daniel. Seja responsável.”
Recentemente, o publicitário Marcos Valério, um dos operadores do escândalo do Mensalão no governo de Lula, ligou o ex-presidente e a cúpula do PT à morte de Daniel, durante delação premiada à Polícia Federal.
Dobradinha de Ciro e d’Avila
Ciro e d’Avila recordaram os escândalos de corrupção petistas. Em especial, citaram o Mensalão. “Há uma coisa que sabemos e concordamos: Lula e o PT foram autores do maior escândalo de corrupção da história do Brasil”, afirmou o candidato à Presidência pelo Novo.
Ciro ressaltou a ideia do candidato do Novo: “A corrupção se generalizou de tal maneira que não dá para esconder”. E continuou: “R$ 16 bilhões foram devolvidos. De onde vem essa montanha de dinheiro? Quando devolveram, disseram que roubaram durante o governo do PT, com conhecimento do Lula”.
Segundo d’Avila, o ex-presidente Lula (PT) não teria capacidade moral de liderar o país. O pedetista concordou. “Lula não aprendeu com as amargas lições que tomou”, observou Ciro. “Não dá para aceitar essa ideia de que não aconteceu nada. Devolveram R$ 16 bilhões. É, disparado, o maior escândalo de corrupção desvendado da história do Brasil.”
Moralização da Petrobras
Lula disse que “moralizou” a Petrobras. A declaração foi uma resposta à candidata do MDB à Presidência, Simone, que perguntou ao petista se, em eventual novo governo, o PT privatizaria estatais deficitárias.
“Moralizamos muitas coisas neste país, sobretudo a Petrobras”, afirmou o petista, ao responder à pergunta de Simone. “Capitalizamos a Petrobras em US$ 70 bilhões. A Petrobras não achou o pré-sal por sorte, não. Houve investimento em pesquisa. O que resultou foi emprego, educação.”
Durante os governos petistas, liderados por Lula e Dilma Rousseff, a Operação Lava Jato descobriu um esquema bilionário de corrupção na Petrobras, conhecido como “Petrolão”. O esquema envolvia cobrança de propina de empreiteiras, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e superfaturamentos de obras contratadas para abastecer os cofres de partidos, funcionários da estatal e políticos. Esse escândalo tornou-se alvo de investigações da Polícia Federal.
Candidata “Bolsonara”
Em meio aos momentos tensos durante o debate na Globo, Simone e Soraya protagonizaram uma “dobradinha” afinada em alguns momentos do encontro entre presidenciáveis. Em uma dessa cenas, no terceiro bloco, quando Simone estourou o tempo ao formular sua pergunta, Soraya disse que cederia seu espaço para a adversária concluir a indagação. Antes, em um ato falho, a emedebista se referiu à adversária como “candidata Bolsonara”. Ela se corrigiu imediatamente e pediu desculpas à colega de Senado.
Lula versus Bolsonaro
Lula e Bolsonaro também se estranharam durante o debate. Em diálogo com o Padre Kelmon, o chefe do Executivo disse que o petista é “chefe de quadrilha”. O ex-presidente, por sua vez, pediu direito de resposta e foi ao púlpito rebater as acusações de Bolsonaro.
“Esperava que o atual presidente tivesse o mínimo de honestidade”, afirmou o petista. “Ele falar que montei quadrilha, tendo a quadrilha da ‘rachadinha’ dos filhos dele? A quadrilha do Ministério da Educação, com barras de ouro? Ele precisava se olhar no espelho e saber o que está acontecendo no governo.”
Bolsonaro também pediu direito de resposta e teve seu direito atendido. “Mentiroso, ex-presidiário”, disse o presidente, olhando para Lula. “Traidor da pátria. ‘Rachadinha’ fizeram seus filhos, roubando milhões de empresas depois de sua chegada ao poder. Deixe de mentir, tome vergonha na cara.”
Último encontro
O terceiro debate entre os candidatos à Presidência da República teve início na quinta-feira 29 e encerrou-se na madrugada desta sexta-feira, 30. O evento contou com a mediação do jornalista William Bonner.
Foi o último encontro dos candidatos antes da eleição. O primeiro turno está marcado para 2 de outubro. Se houver segundo turno, será realizado em 30 de outubro.
Participaram do debate Ciro Gomes (PDT), Jair Bolsonaro (PL), Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Luiz Felipe d’Avila (Novo), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil) e Padre Kelmon (PTB). Eles pertencem a partidos que têm, no mínimo, cinco deputados federais na Câmara.
Mín. 21° Máx. 23°