Seis em cada dez crianças e adolescentes vivem em situação de pobreza no Brasil, segundo relatório do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), divulgado na terça-feira (14). São, ao todo, 32 milhões de pessoas de até 17 anos em estado de privação.
Para a elaboração do estudo, a agência considerou o conceito de pobreza multidimensional, voltado ao público infanto-juvenil. Nessa categoria, sete pontos são observados como critérios: renda (para alimentação), saneamento, educação, moradia, água, informação e trabalho infantil.
“A pobreza na infância vai além da renda. É a inter-relação de várias privações de acessos a direitos que crianças e adolescentes sofrem no país”, afirma Liliana Chopitea, chefe de políticas sociais, monitoramento e avaliação do Unicef no Brasil.
A privação que afeta mais crianças e adolescentes no país é, segundo o Unicef, o saneamento básico, que atinge 21,2 milhões de meninas e meninos. Em seguida vêm o acesso à renda (20,6 milhões), à informação (6,2 milhões), à moradia adequada (4,6 milhões) e à educação (4,3 milhões).
Na pesquisa, as informações coletadas correspondem a diversos anos, dependendo do tema: 2019 (trabalho infantil), dados até 2020 (moradia, água, saneamento e informação), até 2021 (renda, incluindo renda para alimentação) e até 2022 (educação).
Por isso, o número de 32 milhões de crianças e adolescentes corresponde a 2019, já que esse é o último ano no qual há dados disponíveis para todos os temas acima citados.
Depois da pandemia de Covid-19, segundo Chopitea, houve uma piora notável dos indicadores de renda, acesso à educação e à alimentação.
Negros e indígenas sofrem mais
O relatório recorta também os perfis das crianças e dos adolescentes mais atingidos pela pobreza dimensional.
Como em outros estudos de temas cujo foco é a desigualdade social, quem mais é afetado pelo problema são os negros e indígenas: 72,5% desse público estava em situação de pobreza em 2019.
Por outro lado, 49,2% dos brancos e amarelos se encontravam em privação.
Considerados os estados das crianças e dos adolescentes, seis tinham mais de 90% de seus meninos e meninas nesse cenário — todos nas regiões Nordeste ou Norte.
Desafios
O Unicef aponta, no relatório, nove desafios para reverter o atual cenário.
“Importante que o investimento melhore e também as políticas sociais para crianças e adolescentes, e que as políticas sejam planejadas de maneira intersetorial: a saúde, a educação e a renda têm que acompanhar o investimento, em dimensões que precisam, como água, saneamento e moradia”, afirma Liliana Chopitea.
Confira os desafios propostos:
• Priorizar investimentos em políticas sociais;
• Ampliar a oferta de serviços e benefícios às crianças e aos (às) adolescentes mais vulneráveis;
• Fortalecer o Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente;
• Implementar medições e o monitoramento das diferentes dimensões da pobreza e suas privações por um órgão oficial do Estado;
• Promover a segurança alimentar e nutricional de gestantes, crianças e adolescentes, garantindo a eles (as) o direito humano à alimentação adequada e reduzindo o impacto da fome e da má nutrição nas famílias mais empobrecidas;
• Implantar com urgência políticas de busca ativa escolar e retomada da aprendizagem, em especial da alfabetização;
• Priorizar, no âmbito das respectivas esferas de gestão, a agenda de água e saneamento para o desenvolvimento e a implementação de políticas públicas;
• Implementar formas de identificar precocemente as famílias vulneráveis a violências, incluindo trabalho infantil;
• Promover e fortalecer oportunidades no ambiente escolar e na transição de adolescentes para o mercado de trabalho.
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