Cinema pode ser ficção, mas também é uma forma de dialogar sobre a realidade. Por isso, na noite desta segunda-feira, 20, quando as luzes se apagaram em três grandes salas de cinema do Via Verde Shopping, em Rio Branco, centenas de acreanos puderam ver, projetada nas telas, não apenas uma história de ficção, mas uma discussão sobre a realidade do meio em que vivem, na pré-estreia do filme Noites Alienígenas.
Aclamado por onde passou, Noites Alienígenas pode ser considerado um marco da cultura acreana. Com roteiro escrito e dirigido por Sérgio de Carvalho – como adaptação direta do livro de sua autoria -, filmado no Acre, com atores acreanos, entre nomes famosos e desconhecidos, além do célebre ator Chico Diaz, o longa-metragem fez história ao ganhar o Kikito de Melhor Filme do Festival de Gramado, a maior premiação do cinema nacional, além de outras quatro estatuetas.
Em uma noite com direito a tapete vermelho, entrevistas e sessão de fotos quase interminável com elenco, produção e fãs, Sérgio de Carvalho não conseguia conter a emoção. Para ele, trazer um inédito Kikito para o Acre foi uma conquista grandiosa, mas conseguir trazer seu filme para uma pré-estreia no Acre foi ainda maior.
“Agradeço a todos que com muita garra fizeram o filme acontecer. A gente furou uma bolha. Pouquíssimos filmes do Norte conseguem ir para 50 salas de cinema; Noites Alienígenas é fruto de políticas públicas da descentralização da produção audiovisual e esperamos que abra alas para filmes do Acre, do Norte e da Amazônia”, destacou o diretor.
Para quem conhece as periferias de Rio Branco, Noites Alienígenas será um encontro visual. O filme conta a história de Rivelino, Sandra e Paulo, jovens marginalizados que tentam viver como podem, seja como ajudante de um velho traficante, num subemprego para tentar criar o filho, ou fugindo da realidade pelas drogas.
Mas a vida dos três passa a ser ainda mais difícil com a chegada das facções criminosas do Sudeste e sua capacidade de captação de jovens da periferia, o que gera uma intensa transformação em toda a sociedade, mas, principalmente, na vida desses três.
No filme, Sérgio dirige uma história que se desenvolve de forma lenta e por muitas vezes lúdica. Aproveita o belo horizonte de Rio Branco em tela, faz seus personagens travarem batalhas de rimas ou improvisarem raps, vai de retratar costumes indígenas com câmera fixa a conflitos tensos em plano-sequência. Noites Alienígenas escancara uma realidade atualíssima, também emociona e sensibiliza.
Famosa por ter vencido uma edição do Big Brother Brasil, a acreana Gleici Damasceno, que deu luz à personagem Paula, exprimiu como é emocionante finalmente poder ver o filme junto a família e amigos.
“Sempre fui uma militante dos direitos humanos e causas sociais, e poder fazer isso por meio da arte é ainda mais sensacional. Esse filme fala muito sobre a minha vida, sobre a minha intimidade. É importante a gente mostrar para as pessoas o Acre. Vocês vão ver um trabalho que foi feito com muito amor, com muita dedicação”, relatou a atriz.
Também integram o elenco o ator acreano Gabriel Knoxx e a atriz pernambucana Joana Gatis, além de outros nomes do estado.
No fim de fevereiro, o governador Gladson Cameli recebeu a visita de Sérgio de Carvalho, paulista radicado no Acre e dono de uma intensa e diversificada produção cultural, para falar sobre o filme. O encontro discutiu como o governo poderia contribuir para distribuir o filme e levá-lo ainda mais longe, e Cameli foi apresentado ao plano de distribuição do Noites Alienígenas no Brasil e no Acre.
Representando o governador no evento de pré-estreia, o presidente da Fundação Elias Mansour (FEM), Minoru Kinpara, reafirmou o respaldo do Estado: “O governador Gladson Cameli orientou a FEM a apoiar todo o processo de lançamento do filme. Parabenizamos a produção, que é uma conquista do povo acreano, então este é um momento de celebração e orgulho”.
Na quinta-feira, 23, Noites Alienígenas entra em cartaz no cinema da capital e no dia 30 de março, nas salas de cinema de todo o Brasil.
Sérgio de Carvalho é paulista de Valparaíso e está há mais de uma década radicado no Acre. Com intenso ativismo cultural no currículo, é escritor, roteirista, cineasta, organizador do resistente Festival Pachamama-Cinema de Fronteira e diretor da Saci Filmes – Conteúdo em Movimento, que produziu Noites Alienígenas. Foi diretor-presidente da Fundação de Cultura Garibaldi Brasil.
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