Já ficou mais do que claro que cultos são um problema social. Ainda que tenham florescido no coração da Califórnia, nos Estados Unidos da década de 1970, sua estrutura e influência se espalharam pelo mundo todo.
E apesar de sua onda mais preocupante ter ficado na segunda metade do século passado, ainda existem inúmeros tipos de cultos acontecendo bem diante dos nossos olhos, na maioria das vezes por trás de uma fachada bonita.
Um bom exemplo disso é que no último 27 de abril, o pastor queniano Ezekiel Odero foi preso por manter mais de 100 pessoas em jejum.
Arrebanhando multidões
(Fonte: Nichole Sobecki/Getty Images)
Odero é um líder de culto incomum, mesmo que não tão diferente dos outros. Conhecido como um dos pastores mais influentes do Quênia, ele é líder da Igreja da Nova Vida, onde arrebanha fiéis para que se comprometam com uma fé "mais agressiva", por assim dizer.
Tal qual o pastor Paul Mackenzie Nthenge, líder da Igreja Internacional das Boas Novas, Odero prega que apenas o jejum extremo é o meio mais efetivo de as pessoas encontrarem Deus, tanto dentro como fora da igreja.
Foi assim que ele acumulou mais de 400 mil inscritos em seu canal no YouTube e 70 milhões de visualizações. Seus cultos são atendidos por políticos e pessoas que viajam de todo o Quênia para ouvir sua palavra.
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No final de abril, as autoridades quenianas encontraram mais de 100 corpos exumados em valas comuns na propriedade de Odero, em Kilifi, uma cidade a 56 km do Mombança. Eram cadáveres de fiéis que o pastor determinou que se mantivessem em jejum por mais de um mês, até 15 de abril, quando aconteceria um suposto fim do mundo.
A autópsia dos restos mortais revelou que as vítimas, em sua maioria, eram crianças. As causas da morte variaram de fome a estrangulamento e sufocamento.
A esposa de Odero, Rhoda Maweu, foi presa em um esconderijo na cidade costeira de Mtwapa, depois de semanas fugindo.
Fé cega
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O Quênia é um país extremamente religioso, com 84,5% da população sendo adepta ao cristianismo. Os dados exemplificam bem porque se tornou tão comum pessoas serem atraídas para igrejas disfarçadas de cultos, considerados perigosos e não regulamentados.
O governo do presidente William Ruto já alegou que esse tipo de culto é uma espécie de epidemia no país. Com o caso de Odero, o chefe de Estado prometeu reprimir os líderes religiosos que violam a lei, porém, a fé cega da população impede que esses cultos sejam identificados com rapidez.
Milhares de seguidores de Odero se reuniram em frente ao tribunal onde ele estava sendo julgado para rezar por sua libertação, apesar de uma enxurrada de notícias falando da barbárie cometida pelo pastor em sua megaigreja.
As autoridades não sabem qual a extensão dos danos provocados por Odero, sobretudo sua ligação com o pastor Mackenzie, de quem ele não só comprou um canal de televisão como absorveu políticas religiosas extremistas.
(Fonte: Nichole Sobecki/Getty Images)
Em 2017, Mackenzie já havia sido acusado pelas mortes de crianças em sua igreja. Em 2019, ele fechou a instituição e se mudou para um rancho em uma área florestal do condado de Kilifi, onde centenas de famílias se juntaram a ele para construir casas. Inclusive, um de seus ex-seguidores relatou à Associated Press que foi nessa época que o plano de jejum até a morte para encontrar Jesus foi traçado pelo homem.
Mais de 48 pessoas já foram resgatadas com vida e 24 outras detidas em missões de busca e salvamento na propriedade de 325 hectares e em uma fazenda ainda maior do pastor. Segundo grupos defensores dos direitos humanos, que soaram o alarme bem antes sobre o que poderia estar acontecendo nesses locais, as autoridades quenianas sempre foram negligentes.
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